Ontem à noite eu sentei diante da TV. Ultimamente, por estar de férias, tenho feito muito isso. Mas ontem foi proposital. Queria ver o programa que faria uma retrospectiva dos fatos importantes que marcaram o mundo em 2010. Fiz tudo o que eu precisava fazer antes, para estar livre para assisti-lo. Acho que o programa durou mais de duas horas e durante todo o tempo eu fiquei lá, sem levantar sequer para ir ao banheiro – não queria perder nada.
Lembrava da maioria dos fatos que iria passar ali, mas isso não impediu que eu me comovesse novamente ao ver o desespero dos haitianos com aquele terremoto horrível que matou quase 300 mil pessoas. Ou com o sofrimento dos nossos compatriotas de todas as partes do Brasil que perderam tudo com as chuvas e enchentes deste ano. Como não chorar junto com a mãe que perdeu o filho assassinado por causa do engano de um policial? Como não lamentar ver cenas tão chocantes de crueldade de pais para com seus filhos, de marido para com suas esposas, de jovens para com os seus velhinhos?
Percebi que a maioria dos fatos registrada no programa era triste. Quantas tragédias! Assassinatos, chacinas, terrorismo, acidentes, desastres naturais, roubos, perdas, mortes, a desclassificação do Brasil na Copa... Quanto motivo para chorar! Que ano difícil! Como conseguimos chegar ao final, se tudo, todas as circunstâncias insistiam para que parássemos na metade?
Mas, enfim, chegamos! Hoje é o último dia do ano e nós, inteiros ou quase inteiros, estamos aqui. É interessante como todos os dias estamos expostos há milhares de coisas, a diversas experiências, mas, ao que me parece, somente as ruins nos marcam a ponto de nos fazer relembrar.
O programa terminou e eu senti falta de alguns fatos que também ocorreram este ano. Acho que você também sentiu. Senti falta de relembrar a bondade e a fidelidade de Deus que nos permitiram chegar até aqui. Senti falta dos fatos que marcaram a nossa vida pessoal e que de alguma forma nos transformaram em pessoas melhores. Senti falta das experiências que passamos que nos fizeram crescer e nos prepararam para o próximo ano, para que tivéssemos um verdadeiro ANO NOVO.
Será que em duas horas conseguiríamos narrar todas as coisas maravilhosas que Deus nos fez e nos permitiu viver? Conseguiríamos contar todas as suas dádivas e bênçãos sobre as nossas vidas? Fico pensando nas coisas que vivi. Esse ano não foi um mar de rosas pra mim. Foi um ano difícil. De muitos desafios, decepções, frustrações... Mas seria muito ingrata se terminasse assim minha retrospectiva. Foi um ano de sofrimento, mas também de amadurecimento. Foi um ano desafiador, mas de muitas oportunidades. Foi um ano de caminhada pelo deserto, mas também de muita provisão vinda do céu. Deus esteve comigo, como prometera, todos os dias do ano!
Sou grata aos novos amigos que conheci e conquistei. Grata às coisas que aprendi, às experiências que vivi. Sou imensamente grata às histórias de vida que compartilhei, aos novos lugares que pisei, às viagens que fiz. Grata pelo trabalho cumprido, pelas ideias sugeridas, pelas inovações que chegaram. Sou grata pela compreensão a mim estendida, pelos ouvidos emprestados, pela mão segurando a minha, pelos passos dados ao meu lado. Dou graças pelos infortúnios. Pelas lágrimas. Pelas tristezas. Obrigada, Deus, porque eu me frustrei comigo mesmo. Obrigada porque cada decepção me aproximou mais ainda de Ti, do meu verdadeiro Amor. Sou grata a você, 2010! O ano em que pude ver a mão do Senhor! E com meu coração aberto e cheio de esperanças digo... Que venha 2011!
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
A HORA DA DESPEDIDA
6h10. Conforme combinado na noite anterior, Xaxá me balançou e me acordou. Ela já tinha tomado banho, já estava quase pronta e eu coçava os olhos preguiçosamente, adiando pular da beliche e me arrumar. Olhei pra outra beliche do quarto e Charlene ainda estava dormindo. Ela se recusava levantar antes que eu. No nosso quarto, Xaxá sempre era a primeira a acordar. Ela levantava, tomava banho, vestia-se e saía com a Bíblia. Tudo no maior silêncio prá não acordar ninguém. Eu levantava em seguida e a Charlene era sempre a última. Sempre foi assim e nessa manhã de domingo não haveria de ser diferente. Fiquei alguns minutos olhando para o teto, mas levantei. Não podia me atrasar.
Eram 6h47 e lá estava o tio Roland. Pontualíssimo, ele ajeitava as últimas coisas do carro para nos levar ao Aeroporto. Xaxá desceu com uma única mala, vermelha, e por isso sobrou lugar no carro para eu e Charlene irmos também. Domingo de manhã na Rodovia do Contorno é bem diferente do restante da semana. Não havia trânsito, nem obras, nem engarrafamento e, graças a Deus, nenhum acidente. Não sei se por sono ou pela circunstância, fizemos o trajeto até o Aeroporto em silêncio.
Às 7h16 tio Roland estacionou, em fila dupla e por isso não poderia demorar. Ele deu um abraço na Xaxá e Charlene deu em seguida. Eles entraram no carro e voltaram para a base, eu decidi ficar. O check-in foi rápido e nos deu tempo para tomar um café. Saímos da base em jejum, mas como tudo é muito caro no Aeroporto, só tomamos um cafezinho expresso enquanto aguardávamos a chamada para o vôo. “Às 7h50 eu vou”, disse Xaxá entre um gole e outro de café e uma olhada para o cartão de embarque. Ela foi sentar na cadeira de espera e eu não quis mais olhar o relógio.
Não lembro a data exata que conheci a Xaxá, ou melhor, a Oxaene. Pernambucana, de sotaque marcante, ela decidiu ser missionária na Jocum após fazer a escola inicial. Desde que foi para a base de Vitória, ajudava em tudo, mas principalmente na Escola de Treinamento e Discipulado (Eted) treinando, aconselhando, cuidando, servindo os alunos. Aliás, esse era o seu maior dom, a meu ver. Ela sempre foi muito sensível às necessidades de quem estava ao seu redor. Cuidadosa, não media esforços para servir e fazer qualquer um se sentir bem. Tinha estômago pra fazer curativos e paciência pra cuidar dos enfermos. Se alguém da base passasse mal, já sabíamos quem chamar para acompanhar ao hospital. E ela ia, com muito prazer!
Logo que me mudei pra base ocupei uma cama no quarto dela. Isso foi em 2008 e, de lá prá cá, muitos outros obreiros chegaram e saíram. Mas nós continuávamos no mesmo quarto. Aliás, nosso quarto era muito especial. Era o mais legal! Depois que voltou da África, Charlene também foi para lá e formamos o F.O.C. – Fabiana, Oxaene e Charlene. Éramos mais do que apenas colegas de quarto, formamos uma amizade profunda e sincera. Quando acabava nossa jornada de trabalho, subíamos para assistir TV, conversar e comer. Saíamos juntas, compartilhávamos nossas coisas e até nos uníamos pra fazer faxina no meu apartamento. Que programa!
Mas acho que foi nas viagens missionárias da Eted que conheci nelhor a Xaxá. Sua maneira de lidar com conflitos, de confrontar e trazer a verdade, de cuidar das pessoas e principalmente de manter a calma em situações adversas me ensinaram muito. A forma humilde como ela se colocava diante de cada desafio. Seu quebrantamento ao dizer para Deus: “Senhor, eu não sei o que fazer!”, uau! Como ministrou em minha vida e como suas características faziam com que formássemos uma boa dupla de trabalho. E não só no ministério. Normalmente era ela que suportava meus choros e lamentações, tristezas e murmurações que eu insistia em não guardar só prá mim. Quantos conselhos ela me deu! Quantas vezes orou por mim... Ainda ouço o eco da sua voz dizendo: “Fabi, guarda o coração!”...rs... Ah, Xaxá...
Foi quando ouvi a chamada do seu vôo que percebi que ainda tinha muita conversa pra pôr em dia, muito conselho pra escutar, muita oração pra pedir... Mas não dava mais tempo, eram 7h50, hora de embarcar. Sabia que ela ia embora, há dias sua passagem já estava marcada, mas não sei porque razão fui adiando o momento de dizer para ela o quanto sua amizade era importante pra mim, o quanto essa irmã mais velha foi fundamental em minha vida. E agora, no momento que achava eu mais propício para agradecê-la por tudo, me faltava tempo, me faltavam palavras...
Eu a abracei e foi tudo. Meus lábios cerraram e meus olhos começaram a lacrimejar. Tanta coisa pra falar e não consegui emitir nenhum som a não ser a fungada de lágrimas que não me obedeciam mais, corriam pelo meu rosto. Acho que nunca vou me acostumar com despedidas. Mesmo já estando há quatro anos num contexto de missões, em que vemos constantemente pessoas indo e vindo, não me acostumo a dizer adeus aos que amo. Não mesmo.
Não esperei o avião decolar, saí do aeroporto e fui a pé para a casa dos meus pais. Coloquei óculos escuros para disfarçar os olhos vermelhos, mas as lágrimas não respeitam protocolos. Elas continuavam a cair. A caminhada até em casa fora mais longa que o normal e eu me perguntava se algum dia eu iria rever a minha amiga Xaxá. Bom, ainda hoje não tenho uma resposta. Quem sabe uma hora dessas eu sou respondida... Quem sabe uma hora dessas eu reencontro a minha amiga... Uma hora dessas, quem sabe?!!
Eram 6h47 e lá estava o tio Roland. Pontualíssimo, ele ajeitava as últimas coisas do carro para nos levar ao Aeroporto. Xaxá desceu com uma única mala, vermelha, e por isso sobrou lugar no carro para eu e Charlene irmos também. Domingo de manhã na Rodovia do Contorno é bem diferente do restante da semana. Não havia trânsito, nem obras, nem engarrafamento e, graças a Deus, nenhum acidente. Não sei se por sono ou pela circunstância, fizemos o trajeto até o Aeroporto em silêncio.
Às 7h16 tio Roland estacionou, em fila dupla e por isso não poderia demorar. Ele deu um abraço na Xaxá e Charlene deu em seguida. Eles entraram no carro e voltaram para a base, eu decidi ficar. O check-in foi rápido e nos deu tempo para tomar um café. Saímos da base em jejum, mas como tudo é muito caro no Aeroporto, só tomamos um cafezinho expresso enquanto aguardávamos a chamada para o vôo. “Às 7h50 eu vou”, disse Xaxá entre um gole e outro de café e uma olhada para o cartão de embarque. Ela foi sentar na cadeira de espera e eu não quis mais olhar o relógio.
Não lembro a data exata que conheci a Xaxá, ou melhor, a Oxaene. Pernambucana, de sotaque marcante, ela decidiu ser missionária na Jocum após fazer a escola inicial. Desde que foi para a base de Vitória, ajudava em tudo, mas principalmente na Escola de Treinamento e Discipulado (Eted) treinando, aconselhando, cuidando, servindo os alunos. Aliás, esse era o seu maior dom, a meu ver. Ela sempre foi muito sensível às necessidades de quem estava ao seu redor. Cuidadosa, não media esforços para servir e fazer qualquer um se sentir bem. Tinha estômago pra fazer curativos e paciência pra cuidar dos enfermos. Se alguém da base passasse mal, já sabíamos quem chamar para acompanhar ao hospital. E ela ia, com muito prazer!
Logo que me mudei pra base ocupei uma cama no quarto dela. Isso foi em 2008 e, de lá prá cá, muitos outros obreiros chegaram e saíram. Mas nós continuávamos no mesmo quarto. Aliás, nosso quarto era muito especial. Era o mais legal! Depois que voltou da África, Charlene também foi para lá e formamos o F.O.C. – Fabiana, Oxaene e Charlene. Éramos mais do que apenas colegas de quarto, formamos uma amizade profunda e sincera. Quando acabava nossa jornada de trabalho, subíamos para assistir TV, conversar e comer. Saíamos juntas, compartilhávamos nossas coisas e até nos uníamos pra fazer faxina no meu apartamento. Que programa!
Mas acho que foi nas viagens missionárias da Eted que conheci nelhor a Xaxá. Sua maneira de lidar com conflitos, de confrontar e trazer a verdade, de cuidar das pessoas e principalmente de manter a calma em situações adversas me ensinaram muito. A forma humilde como ela se colocava diante de cada desafio. Seu quebrantamento ao dizer para Deus: “Senhor, eu não sei o que fazer!”, uau! Como ministrou em minha vida e como suas características faziam com que formássemos uma boa dupla de trabalho. E não só no ministério. Normalmente era ela que suportava meus choros e lamentações, tristezas e murmurações que eu insistia em não guardar só prá mim. Quantos conselhos ela me deu! Quantas vezes orou por mim... Ainda ouço o eco da sua voz dizendo: “Fabi, guarda o coração!”...rs... Ah, Xaxá...
Foi quando ouvi a chamada do seu vôo que percebi que ainda tinha muita conversa pra pôr em dia, muito conselho pra escutar, muita oração pra pedir... Mas não dava mais tempo, eram 7h50, hora de embarcar. Sabia que ela ia embora, há dias sua passagem já estava marcada, mas não sei porque razão fui adiando o momento de dizer para ela o quanto sua amizade era importante pra mim, o quanto essa irmã mais velha foi fundamental em minha vida. E agora, no momento que achava eu mais propício para agradecê-la por tudo, me faltava tempo, me faltavam palavras...
Eu a abracei e foi tudo. Meus lábios cerraram e meus olhos começaram a lacrimejar. Tanta coisa pra falar e não consegui emitir nenhum som a não ser a fungada de lágrimas que não me obedeciam mais, corriam pelo meu rosto. Acho que nunca vou me acostumar com despedidas. Mesmo já estando há quatro anos num contexto de missões, em que vemos constantemente pessoas indo e vindo, não me acostumo a dizer adeus aos que amo. Não mesmo.
Não esperei o avião decolar, saí do aeroporto e fui a pé para a casa dos meus pais. Coloquei óculos escuros para disfarçar os olhos vermelhos, mas as lágrimas não respeitam protocolos. Elas continuavam a cair. A caminhada até em casa fora mais longa que o normal e eu me perguntava se algum dia eu iria rever a minha amiga Xaxá. Bom, ainda hoje não tenho uma resposta. Quem sabe uma hora dessas eu sou respondida... Quem sabe uma hora dessas eu reencontro a minha amiga... Uma hora dessas, quem sabe?!!
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Ela vai se casar com um príncipe!!!
Eram 15hs quando cheguei ao local marcado. De longe, já as avistei, sentadas no ponto de ônibus, me esperando. Cinco meninas, de 10 a 13 anos, do nosso projeto social Casa Gileade ganharam um tratamento capilar num salão de beleza deslumbrante e eu ficara responsável de levá-las até lá. Elas não estavam sozinhas, Charlene, uma das professoras do projeto que funciona em Flexal 2, no bairro onde elas moram, tinha as levado de ônibus. A viagem atrasara, já que neste dia o sistema de transporte estava em greve. Elas tinham saído de casa às 12h30 e a maioria nem sequer tinha almoçado.
Entramos no salão, lotado! A sala de espera era um verdadeiro paraíso, com café e água à vontade, cadeiras confortáveis e ar refrigerado, contrastando com o calor sufocante que fazia do lado de fora. Logo ao entrarem, as meninas foram notadas, os olhares vinham de todos os lados do salão, mas não as deixou constrangidas. Elas se sentaram e começaram a comentar as notícias de famosos que passava na TV.
Detesto esses programas! Em meio a um cenário de guerra no Rio de Janeiro e do caos causado pela greve de ônibus aqui na Grande Vitória, um programa consegue falar de tantas futilidades como a roupa brega da atriz fulana de tal, ou o novo namorado de uma pop star dessas qualquer. Mais interessante prá mim naquela sala era o café quentinho que acabava de ser passado, mas os olhos das meninas nem piscavam diante do mundo ‘maravilhoso e perfeito’ dos ricos e famosos. Elas imitavam os trejeitos dos artistas, riam com suas gargalhadas, tentavam pronunciar palavras em inglês, até eu – já com meu cafezinho em mãos – comecei a prestar atenção ao programa. Era uma risadaria só, até que todas ficaram em silêncio para a grande reportagem do dia: o noivado do príncipe Willian, da Inglaterra.
Kate, a noiva escolhida pelo herdeiro real, apresentou-se num vestido azul, de braços dados com Willian, diante da imprensa mundial. Seu cabelo, escovado e bem esticado, cobria parte do seu rosto e cobria tanto que as meninas chegaram a torcer o pescoço para ver o rosto da sortuda e dar a sentença final: se ela era ou não bonita suficiente para ocupar o cargo de princesa. E, depois de tanta concentração, Amanda, uma das meninas que esperava para dar um jeitinho no cabelo me cutucou. “– Ela deve ser muito feliz, né tia?! Ela vai se casar com um príncipe!!!”.
Amanda tem 13 anos, é negra, e mora no Flexal 2 desde que nasceu. Toda sua família mora lá. Como toda menina dessa idade, tem seus conflitos com a família, com a escola, com ela mesma, mas também tem sonhos, muitos sonhos. Ela participa da Casa Gileade há algum tempo, recebe instruções, reforço escolar, alimentação, acompanhamento pedagógico, lições de artes e esportes e aconselhamento para a vida. Ter 13 anos e morar numa comunidade pobre e violenta não é bem o sonho de ninguém, mas apesar disso, Amanda tinha sonhos.
Antes de entrarmos no salão, ao me aproximar delas no ponto de ônibus, notei bem para onde estavam voltados os olhos da Amanda. Ao lado dela estava um adolescente, de no máximo 15 anos, branco, de cabelos lisos e jogados para o lado, estilo ‘Justin Bieber’. Seus olhos brilhavam como quem admira um diamante, como quem vislumbra uma miragem. E como toda miragem que desaparece no vento, segundos depois, o menino deu sinal e entrou num ônibus sem sequer olhar para trás.
Gostaria muito que Amanda fosse uma princesa. Gostaria muito que ela se sentisse uma princesa. Gostaria muito que ela fosse feliz como uma princesa. Feliz como terminam os contos de fadas que talvez ela nunca teve oportunidade de conhecer. Ela nunca viu um palácio, nem nunca andou numa carruagem. Amanda significa digna de ser amada e é isso que eu desejo pra ela. Ainda que pobre, negra e de cabelos crespos. Linda, linda Amanda.
Saímos do salão às 21hs. Famintas, cansadas, mas felizes. Pelo menos um dia de princesa elas tiveram. Uma outra menina, após conferir o resultado do novo penteado, abriu um largo sorriso. “– Agora eu não tenho mais vergonha de olhar no espelho!”. Meus olhos encheram d’água. Como gratidão, elas abraçaram todas as funcionárias, convidaram-nas pra festinha de encerramento da Gileade e oraram pela dona do salão. “Nunca ouvi uma oração tão bonita”, disse a empresária, em lágrimas. Embarquei-as num ônibus rumo a Flexal e fui para casa caminhando, pensando em tudo que havia acontecido. Não sei qual o futuro reservado para essas meninas. Se tenho esperança de dias melhores? Sim, eu tenho. Mas tenho que confessar que também tenho medo. Medo de perdê-las, de vê-las seguindo a mesma triste trajetória de tantas outras meninas da comunidade. Não quero isso. Luto para que isso não aconteça. Mas... Chorei naquela noite. Passados os dias, vi novamente a reportagem do noivado ‘mais badalado do ano’, agora com outros olhos. Kate não era sortuda e nem estava ao lado do príncipe por merecimento. Todas nós somos princesas! Meninas, mulheres, senhoras... Filhas de um mesmo Rei, herdeiras de um mesmo reino. Sonhadoras, felizes, amadas...
Entramos no salão, lotado! A sala de espera era um verdadeiro paraíso, com café e água à vontade, cadeiras confortáveis e ar refrigerado, contrastando com o calor sufocante que fazia do lado de fora. Logo ao entrarem, as meninas foram notadas, os olhares vinham de todos os lados do salão, mas não as deixou constrangidas. Elas se sentaram e começaram a comentar as notícias de famosos que passava na TV.
Detesto esses programas! Em meio a um cenário de guerra no Rio de Janeiro e do caos causado pela greve de ônibus aqui na Grande Vitória, um programa consegue falar de tantas futilidades como a roupa brega da atriz fulana de tal, ou o novo namorado de uma pop star dessas qualquer. Mais interessante prá mim naquela sala era o café quentinho que acabava de ser passado, mas os olhos das meninas nem piscavam diante do mundo ‘maravilhoso e perfeito’ dos ricos e famosos. Elas imitavam os trejeitos dos artistas, riam com suas gargalhadas, tentavam pronunciar palavras em inglês, até eu – já com meu cafezinho em mãos – comecei a prestar atenção ao programa. Era uma risadaria só, até que todas ficaram em silêncio para a grande reportagem do dia: o noivado do príncipe Willian, da Inglaterra.
Kate, a noiva escolhida pelo herdeiro real, apresentou-se num vestido azul, de braços dados com Willian, diante da imprensa mundial. Seu cabelo, escovado e bem esticado, cobria parte do seu rosto e cobria tanto que as meninas chegaram a torcer o pescoço para ver o rosto da sortuda e dar a sentença final: se ela era ou não bonita suficiente para ocupar o cargo de princesa. E, depois de tanta concentração, Amanda, uma das meninas que esperava para dar um jeitinho no cabelo me cutucou. “– Ela deve ser muito feliz, né tia?! Ela vai se casar com um príncipe!!!”.
Amanda tem 13 anos, é negra, e mora no Flexal 2 desde que nasceu. Toda sua família mora lá. Como toda menina dessa idade, tem seus conflitos com a família, com a escola, com ela mesma, mas também tem sonhos, muitos sonhos. Ela participa da Casa Gileade há algum tempo, recebe instruções, reforço escolar, alimentação, acompanhamento pedagógico, lições de artes e esportes e aconselhamento para a vida. Ter 13 anos e morar numa comunidade pobre e violenta não é bem o sonho de ninguém, mas apesar disso, Amanda tinha sonhos.
Antes de entrarmos no salão, ao me aproximar delas no ponto de ônibus, notei bem para onde estavam voltados os olhos da Amanda. Ao lado dela estava um adolescente, de no máximo 15 anos, branco, de cabelos lisos e jogados para o lado, estilo ‘Justin Bieber’. Seus olhos brilhavam como quem admira um diamante, como quem vislumbra uma miragem. E como toda miragem que desaparece no vento, segundos depois, o menino deu sinal e entrou num ônibus sem sequer olhar para trás.
Gostaria muito que Amanda fosse uma princesa. Gostaria muito que ela se sentisse uma princesa. Gostaria muito que ela fosse feliz como uma princesa. Feliz como terminam os contos de fadas que talvez ela nunca teve oportunidade de conhecer. Ela nunca viu um palácio, nem nunca andou numa carruagem. Amanda significa digna de ser amada e é isso que eu desejo pra ela. Ainda que pobre, negra e de cabelos crespos. Linda, linda Amanda.
Saímos do salão às 21hs. Famintas, cansadas, mas felizes. Pelo menos um dia de princesa elas tiveram. Uma outra menina, após conferir o resultado do novo penteado, abriu um largo sorriso. “– Agora eu não tenho mais vergonha de olhar no espelho!”. Meus olhos encheram d’água. Como gratidão, elas abraçaram todas as funcionárias, convidaram-nas pra festinha de encerramento da Gileade e oraram pela dona do salão. “Nunca ouvi uma oração tão bonita”, disse a empresária, em lágrimas. Embarquei-as num ônibus rumo a Flexal e fui para casa caminhando, pensando em tudo que havia acontecido. Não sei qual o futuro reservado para essas meninas. Se tenho esperança de dias melhores? Sim, eu tenho. Mas tenho que confessar que também tenho medo. Medo de perdê-las, de vê-las seguindo a mesma triste trajetória de tantas outras meninas da comunidade. Não quero isso. Luto para que isso não aconteça. Mas... Chorei naquela noite. Passados os dias, vi novamente a reportagem do noivado ‘mais badalado do ano’, agora com outros olhos. Kate não era sortuda e nem estava ao lado do príncipe por merecimento. Todas nós somos princesas! Meninas, mulheres, senhoras... Filhas de um mesmo Rei, herdeiras de um mesmo reino. Sonhadoras, felizes, amadas...
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
TãoDignas
Ontem à noite foi o fechamento das atividades do ano do projeto TãoDignas. Trata-se de uma iniciativa com as mulheres da comunidade de Flexal II de devolvê-las a dignidade, o amor, a vida, que é dada a todo ser humano desde o seu nascimento. Durante os últimos quatro meses desenvolvemos palestras, oficinas, aconselhamentos, atendimento com profissionais e pastoreio. E vimos, nesse tempo, o grupo de mulheres se desenvolver de uma forma gratificante e empolgante. Muitas deram testemunho ontem sobre como foi esse tempo e eu, como gratidão a Deus, escrevi e li a poesia abaixo durante a formatura. Ano que vem, o desafio aumenta, mas nosso coração descansa ao saber que Deus tem conduzido esse pequeno rebanho a pastos verdejantes.
Queimada pelo Sol, castigada pelo tempo, as marcas no seu rosto retratam as experiências que já viveu.
Seus ombros se curvam, mas não caem. Eles suportam um peso que é só seu.
E se na jornada da vida eu pergunto seu nome, você me diz:
‘Ninguém é tão forte como eu!’
Por humilhação já passou, por injustiça também. Ninguém sabe que antes você foi tratada com desdém.
Se no coração há uma tristeza, esquecer te fará bem. Mas perdoar nunca foi fácil e nunca será para ninguém.
E se na jornada da vida eu pergunto seu nome, você me diz:
‘Sou tão comum como qualquer alguém!’
Se te faço perguntas é prá saber quem você é. Prá tentar descobrir a dor, o prazer e a garra de ser mulher.
Não terei as tuas mãos, as mesmas da disciplina e do cafuné. Mas posso acompanhar teus passos, seguindo perto, seguindo a pé.
E nessa jornada da vida, mais uma vez eu pergunto o seu nome e você me diz:
‘Sou tão peregrina, venha ver como é que é!’
Fortaleça seus braços e de dignidade se vista. Não olhe o passado, mas diante do futuro sorria.
Esse é o seu galardão, esta é a sua vida. Que na cruz foi resgatada e por Cristo redimida.
Ele levanta seu rosto, te olha nos olhos e de uma vez por todas o teu nome pronuncia:
‘Tão mulher, tão bela, TÃODIGNA!’.
Queimada pelo Sol, castigada pelo tempo, as marcas no seu rosto retratam as experiências que já viveu.
Seus ombros se curvam, mas não caem. Eles suportam um peso que é só seu.
E se na jornada da vida eu pergunto seu nome, você me diz:
‘Ninguém é tão forte como eu!’
Por humilhação já passou, por injustiça também. Ninguém sabe que antes você foi tratada com desdém.
Se no coração há uma tristeza, esquecer te fará bem. Mas perdoar nunca foi fácil e nunca será para ninguém.
E se na jornada da vida eu pergunto seu nome, você me diz:
‘Sou tão comum como qualquer alguém!’
Se te faço perguntas é prá saber quem você é. Prá tentar descobrir a dor, o prazer e a garra de ser mulher.
Não terei as tuas mãos, as mesmas da disciplina e do cafuné. Mas posso acompanhar teus passos, seguindo perto, seguindo a pé.
E nessa jornada da vida, mais uma vez eu pergunto o seu nome e você me diz:
‘Sou tão peregrina, venha ver como é que é!’
Fortaleça seus braços e de dignidade se vista. Não olhe o passado, mas diante do futuro sorria.
Esse é o seu galardão, esta é a sua vida. Que na cruz foi resgatada e por Cristo redimida.
Ele levanta seu rosto, te olha nos olhos e de uma vez por todas o teu nome pronuncia:
‘Tão mulher, tão bela, TÃODIGNA!’.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Orar... Silenciar... Esperar!
"Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança" - Sl 131.
Em tempos de aflição e ansiedade, acho que essa era a melhor coisa que eu poderia ouvir de Deus. Quando não se sabe o que fazer, o melhor é Orar... Silenciar... Esperar... Para depois, então, ouvir e obedecer! Fazer aquietar a nossa alma, que se perturba dentro de nós e muitas vezes nos faz esquecer daquilo que foi dito e prometido. Parar tudo e se deleitar nos braços do único que pode nos confortar e nos saciar! É a melhor coisa, a única coisa a fazer!
Tenho vivido um tempo de muitas transformações. Alguns notaram isso, quando cortei o cabelo (consegui, criei coragem!), mas a verdade é que as mudanças externas são apenas reflexos do que tem acontecido dentro de mim. Tem sido um tempo de reavaliação, reflexão e mudança. E hoje eu me sinto desafiada a tomar novas e diferentes posturas.
Mas, enquanto todo esse processo se ‘processa’ dentro de mim, quero compartilhar contigo o que tenho feito. Afinal, não dá prá ficar à toa na vida vendo a banda passar, como na famosa canção de Chico Buarque...rs...
Bom, há alguns meses preparávamos a I Conferência de Justiça e Transformação. Tivemos muito trabalho, muitos contratempos, mas ela aconteceu e foi maravilhosa! Debatemos sobre justiça social, visão integral do Evangelho, missão da Igreja, Mordomia da Criação, teologia integral, Reino de Deus, vocação e as sete áreas de influência da sociedade. Quem aceitou o desafio de estar presente foi impactado e transformado. Nossa oração é que toda essa luz recebida gere frutos que se multipliquem a 30, 60, 100 por 1.
Ser influência na sociedade, no meio em que vivemos é mais do que uma oportunidade. É a nossa missão. Sabe, quando entendemos isso, tudo muda! Iniciamos um novo projeto aqui na base, é o Bola da Vez, que envolve os meninos do bairro em aulas de futebol. Uma forma de preencher o tempo ocioso e evitar que eles trilhem caminhos errados. Também é uma boa oportunidade de descobrir talentos e, quem sabe, futuros craques para a seleção brasileira!
O projeto TãoDignas, com as mulheres da comunidade, também tem dado muitos frutos. Todas as terças temos estudos, palestras, oficinas, ministrações, enfim, um tempo de qualidade com as mulheres de Flexal 2. Desenvolvemos muitas atividades com o intuito de resgatar a dignidade e o valor de cada uma delas. Já tem um tempo que estamos juntas, aliás, esse é o projeto que eu mais me envolvo, e isso criou um elo de amizade entre nós. Todas as terças eu as espero chegar e ao vê-las no portão, meu coração se enche de alegria, sei que será mais uma tarde agradável na presença de Deus e de minhas novas amigas!
Como vcs sabem, a base fica no bairro de Flexal 2, temos nos envolvido também no desenvolvimento comunitário desta região. Tantas coisas precisam ser feitas! Às vezes meu coração se enche de indignação ao perceber o descaso com que a comunidade é tratada por aqueles que podem e devem fazer algo. Mas como iniciei lá em cima, às vezes é preciso somente orar, silenciar e esperar! Soma comigo nisso. Juntos veremos muitas coisas acontecer.
Motivo de oração:
• Pela transformação do Flexal 2: Redução dos índices de violência, saneamento básico e coleta de lixo decente, segurança no trânsito principalmente com relação à rodovia do Contorno e qualidade de vida para os moradores.
• Por minha saúde: Fiz exames e estou com anemia.
• Pela viagem à Paraíba: Vou participar de um congresso em João Pessoa nos dias 15 a 19 de novembro. Preciso de pelo menos R$ 700,00. Ainda não tenho essa grana.
• Por 2011: Estou definindo meu próximo ano e preciso MUITO da direção de Deus. Preciso ouvi-lo, mais do que nunca.
Seu apoio financeiro também é muito importante para mim. Se vc quiser caminhar comigo nesta área é só entrar em contato, ou então, contribuir:
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Agência: 1034
Conta Poupança: 3990-0 Variação: 013
Que Deus te abençoe e até a próxima!
Em tempos de aflição e ansiedade, acho que essa era a melhor coisa que eu poderia ouvir de Deus. Quando não se sabe o que fazer, o melhor é Orar... Silenciar... Esperar... Para depois, então, ouvir e obedecer! Fazer aquietar a nossa alma, que se perturba dentro de nós e muitas vezes nos faz esquecer daquilo que foi dito e prometido. Parar tudo e se deleitar nos braços do único que pode nos confortar e nos saciar! É a melhor coisa, a única coisa a fazer!
Tenho vivido um tempo de muitas transformações. Alguns notaram isso, quando cortei o cabelo (consegui, criei coragem!), mas a verdade é que as mudanças externas são apenas reflexos do que tem acontecido dentro de mim. Tem sido um tempo de reavaliação, reflexão e mudança. E hoje eu me sinto desafiada a tomar novas e diferentes posturas.
Mas, enquanto todo esse processo se ‘processa’ dentro de mim, quero compartilhar contigo o que tenho feito. Afinal, não dá prá ficar à toa na vida vendo a banda passar, como na famosa canção de Chico Buarque...rs...
Bom, há alguns meses preparávamos a I Conferência de Justiça e Transformação. Tivemos muito trabalho, muitos contratempos, mas ela aconteceu e foi maravilhosa! Debatemos sobre justiça social, visão integral do Evangelho, missão da Igreja, Mordomia da Criação, teologia integral, Reino de Deus, vocação e as sete áreas de influência da sociedade. Quem aceitou o desafio de estar presente foi impactado e transformado. Nossa oração é que toda essa luz recebida gere frutos que se multipliquem a 30, 60, 100 por 1.
Ser influência na sociedade, no meio em que vivemos é mais do que uma oportunidade. É a nossa missão. Sabe, quando entendemos isso, tudo muda! Iniciamos um novo projeto aqui na base, é o Bola da Vez, que envolve os meninos do bairro em aulas de futebol. Uma forma de preencher o tempo ocioso e evitar que eles trilhem caminhos errados. Também é uma boa oportunidade de descobrir talentos e, quem sabe, futuros craques para a seleção brasileira!
O projeto TãoDignas, com as mulheres da comunidade, também tem dado muitos frutos. Todas as terças temos estudos, palestras, oficinas, ministrações, enfim, um tempo de qualidade com as mulheres de Flexal 2. Desenvolvemos muitas atividades com o intuito de resgatar a dignidade e o valor de cada uma delas. Já tem um tempo que estamos juntas, aliás, esse é o projeto que eu mais me envolvo, e isso criou um elo de amizade entre nós. Todas as terças eu as espero chegar e ao vê-las no portão, meu coração se enche de alegria, sei que será mais uma tarde agradável na presença de Deus e de minhas novas amigas!
Como vcs sabem, a base fica no bairro de Flexal 2, temos nos envolvido também no desenvolvimento comunitário desta região. Tantas coisas precisam ser feitas! Às vezes meu coração se enche de indignação ao perceber o descaso com que a comunidade é tratada por aqueles que podem e devem fazer algo. Mas como iniciei lá em cima, às vezes é preciso somente orar, silenciar e esperar! Soma comigo nisso. Juntos veremos muitas coisas acontecer.
Motivo de oração:
• Pela transformação do Flexal 2: Redução dos índices de violência, saneamento básico e coleta de lixo decente, segurança no trânsito principalmente com relação à rodovia do Contorno e qualidade de vida para os moradores.
• Por minha saúde: Fiz exames e estou com anemia.
• Pela viagem à Paraíba: Vou participar de um congresso em João Pessoa nos dias 15 a 19 de novembro. Preciso de pelo menos R$ 700,00. Ainda não tenho essa grana.
• Por 2011: Estou definindo meu próximo ano e preciso MUITO da direção de Deus. Preciso ouvi-lo, mais do que nunca.
Seu apoio financeiro também é muito importante para mim. Se vc quiser caminhar comigo nesta área é só entrar em contato, ou então, contribuir:
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Agência: 1034
Conta Poupança: 3990-0 Variação: 013
Que Deus te abençoe e até a próxima!
sábado, 4 de setembro de 2010
A GRANDE DIFERENÇA
Em julho completou dois anos que eu estou morando na Jocum, no bairro de Flexal 2, em Cariacica. Quando Isabel – na época diretora da base – me desafiou a morar lá e não somente ir uma vez por semana, como eu fazia já há seis meses, não poderia imaginar o que estava a me esperar. Se eu disser que aceitei de prontidão, faltarei com a verdade. Dez em cada dez brasileiros sonham com a casa própria e eu tinha a minha. Estava morando no meu apartamento mobiliado, numa das regiões imobiliárias que mais valoriza no ES, ainda refletindo sobre todas as informações e ministrações recebidas nas escolas de Jocum, em Minas, enfim, estava bem confortável.
Detalhe que mudar para Cariacica e, diga-se, para Flexal 2, nunca fora o meu sonho pessoal. Nem ministerial. A má fama do dueto ‘pobreza e violência’ não estava somente no ‘ouvir falar’. Eu mesmo já tive a oportunidade de chegar ao bairro em meio a um tiroteio. Nunca, até então, tinha ficado em Flexal 2 após às 17h30, mas agora, eu iria morar lá. Eu escolhi morar lá.
Flexal 2 não foge à realidade das periferias brasileiras. Índices baixos de Educação, saúde, saneamento básico e qualidade de vida. Índices altos de violência, gravidez na adolescência, tráfico de drogas e todo tipo de abuso. Meninos que nunca conheceram seus pais e têm a vida interrompida antes de formar família. Meninas que ainda não guardaram as bonecas, mas que já estão no sexto mês de gravidez e há anos fumando crack. Nada novo, nada diferente, nada especial. Claro, se não fosse o fato de morarmos na comunidade.
Quando se quer realmente enxergar a realidade, ela pode muitas vezes se mostrar bem dura. E bem difícil. É impossível estar num lugar e não se envolver com o que o compõe, principalmente quando se está lá pelo Reino de Deus. Lembro quando eu chorei pela primeira vez. Foi ao ver um menino de dois anos com uma hérnia enorme no umbigo, sujo, descalço e com os pequenos dentinhos da frente todos danificados. Porque ninguém fazia nada? Eu não entendia. Porque Deus permitia aquilo? Eu me indignava.
Porém, a situação daquela criança era apenas uma dentre muitas outras. Conheci um pouco da vida das mulheres da comunidade, que atendíamos com distribuição de alimentos. A maioria aprisionada pelo vício do álcool. Famílias destruídas, sonhos despedaçados. Projetos que nunca foram à frente, dignidade que já se havia perdido pelo meio do caminho. Era impactante prá mim saber que um bairro com apenas 30 anos tivesse tantas histórias de dor e tristeza. Não é tarefa simples contar a história de Flexal 2. E lá estava eu, somando com meus poucos colegas missionários que também aceitaram corajosamente o desafio de fazer a diferença em Flexal 2. E que grande diferença!
São apenas dois anos de trabalho, mas quando avalio esse tempo vejo o quanto já foi feito, isso sem contar os anos anteriores de muita semeadura nos campos férteis, repito, CAMPOS FÉRTEIS, de Flexal 2. Hoje, a Casa Gileade atende a mais de 100 crianças que vão regularmente para aprender mais de Deus. Sou testemunha de que novos rumos estão sendo desenhados pela nova geração, que não repetirá os mesmos erros do passado.
O programa de distribuição de alimentos agora abrange outras áreas e 30 mulheres contam, semanalmente, com palestras, aconselhamentos e pastoreio. Uma delas decidiu abandonar o alcoolismo e pediu a nossa ajuda. Outra, há poucos dias, entregou sua vida a Jesus. O programa com as mulheres do bairro, que ainda nem tem nome, tem dado bons e eternos frutos.
Há um mês iniciamos um programa de rádio para conscientizar os moradores em questões ambientais. O programa é divertido e fala, de forma clara, sobre a mordomia da Criação, sobre a nossa responsabilidade com o mundo que Deus criou. Cremos que é possível ter um bairro limpo, bonito e agradável, conforme o desejo de Deus. Não, não é utopia, é escolha. E sabe qual é a grande diferença?
Eu posso ter outro e qualquer outro trabalho, mas eu escolho servir à comunidade de Flexal 2.
Eu posso ser indiferente às problemáticas da comunidade, mas eu escolho amá-la, independente de qualquer coisa.
Eu posso ser mais uma moradora somente, mas eu escolho representar o Reino de Deus e expandi-lo entre as famílias do nosso morro.
Esse é o meu compromisso. E essa é a grande diferença!
Detalhe que mudar para Cariacica e, diga-se, para Flexal 2, nunca fora o meu sonho pessoal. Nem ministerial. A má fama do dueto ‘pobreza e violência’ não estava somente no ‘ouvir falar’. Eu mesmo já tive a oportunidade de chegar ao bairro em meio a um tiroteio. Nunca, até então, tinha ficado em Flexal 2 após às 17h30, mas agora, eu iria morar lá. Eu escolhi morar lá.
Flexal 2 não foge à realidade das periferias brasileiras. Índices baixos de Educação, saúde, saneamento básico e qualidade de vida. Índices altos de violência, gravidez na adolescência, tráfico de drogas e todo tipo de abuso. Meninos que nunca conheceram seus pais e têm a vida interrompida antes de formar família. Meninas que ainda não guardaram as bonecas, mas que já estão no sexto mês de gravidez e há anos fumando crack. Nada novo, nada diferente, nada especial. Claro, se não fosse o fato de morarmos na comunidade.
Quando se quer realmente enxergar a realidade, ela pode muitas vezes se mostrar bem dura. E bem difícil. É impossível estar num lugar e não se envolver com o que o compõe, principalmente quando se está lá pelo Reino de Deus. Lembro quando eu chorei pela primeira vez. Foi ao ver um menino de dois anos com uma hérnia enorme no umbigo, sujo, descalço e com os pequenos dentinhos da frente todos danificados. Porque ninguém fazia nada? Eu não entendia. Porque Deus permitia aquilo? Eu me indignava.
Porém, a situação daquela criança era apenas uma dentre muitas outras. Conheci um pouco da vida das mulheres da comunidade, que atendíamos com distribuição de alimentos. A maioria aprisionada pelo vício do álcool. Famílias destruídas, sonhos despedaçados. Projetos que nunca foram à frente, dignidade que já se havia perdido pelo meio do caminho. Era impactante prá mim saber que um bairro com apenas 30 anos tivesse tantas histórias de dor e tristeza. Não é tarefa simples contar a história de Flexal 2. E lá estava eu, somando com meus poucos colegas missionários que também aceitaram corajosamente o desafio de fazer a diferença em Flexal 2. E que grande diferença!
São apenas dois anos de trabalho, mas quando avalio esse tempo vejo o quanto já foi feito, isso sem contar os anos anteriores de muita semeadura nos campos férteis, repito, CAMPOS FÉRTEIS, de Flexal 2. Hoje, a Casa Gileade atende a mais de 100 crianças que vão regularmente para aprender mais de Deus. Sou testemunha de que novos rumos estão sendo desenhados pela nova geração, que não repetirá os mesmos erros do passado.
O programa de distribuição de alimentos agora abrange outras áreas e 30 mulheres contam, semanalmente, com palestras, aconselhamentos e pastoreio. Uma delas decidiu abandonar o alcoolismo e pediu a nossa ajuda. Outra, há poucos dias, entregou sua vida a Jesus. O programa com as mulheres do bairro, que ainda nem tem nome, tem dado bons e eternos frutos.
Há um mês iniciamos um programa de rádio para conscientizar os moradores em questões ambientais. O programa é divertido e fala, de forma clara, sobre a mordomia da Criação, sobre a nossa responsabilidade com o mundo que Deus criou. Cremos que é possível ter um bairro limpo, bonito e agradável, conforme o desejo de Deus. Não, não é utopia, é escolha. E sabe qual é a grande diferença?
Eu posso ter outro e qualquer outro trabalho, mas eu escolho servir à comunidade de Flexal 2.
Eu posso ser indiferente às problemáticas da comunidade, mas eu escolho amá-la, independente de qualquer coisa.
Eu posso ser mais uma moradora somente, mas eu escolho representar o Reino de Deus e expandi-lo entre as famílias do nosso morro.
Esse é o meu compromisso. E essa é a grande diferença!
terça-feira, 29 de junho de 2010
A oferta e o dvd
Tinha acabado de chegar à casa da minha mãe e a campainha não parava de tocar. Era dezembro de 2007 e eu havia passado o ano todo fora em escolas da Jocum (agência missionária que faço parte). Muitos amigos foram me ver pra me ouvir contar experiências. Havia passado pelo sertão nordestino, maravilhas Deus tinha operado por lá.
Um dos meus amigos, o Marcos, também tinha acabado de chegar. Ele estava trabalhando em Minas e, de férias, resolvera passar alguns dias no Espírito Santo, na casa dos pais. E, saudoso, também fora me ver.
Durante nossa conversa e em meio a tantos testemunhos, Marcos me entregou um envelope. Dentro, havia uma oferta que ele havia separado do seu 13º. para mim. Eram R$ 100,00. Eu agradeci e logo comecei a pensar o que faria com o dinheiro. Planos não faltavam.
Estava com viagem marcada para São Paulo. Minha família iria passar as festas de fim de ano por lá e eu também decidi ir. A forma como eu consegui o dinheiro das passagens daria um novo post! Fiz um ‘brechó’ de roupas que eu não usava mais: terninhos, vestidos... enfim. Consegui o dinheiro das passagens de ida e volta de avião pra Sampa e passaria o reveillon com a família da minha mãe.
Já estava na semana de viajar quando decidi, com a oferta, comprar três dvds. Não eram quaisquer ‘dvds’. Eram dvds com mensagens evangelísticas, mas infantis. Eram para meus três priminhos: Kaio, Pedro e Juliana. Os meninos tinham 3 anos e a Jú, que já tinha enfrentado uma meningite anos anteriores, era mais velha, mas não lembro a idade certa. Essa minha priminha guerreira também daria um outro post.
Enfim... Cheguei em SP e a primeira coisa que fiz foi distribuir os presentes. Ninguém da família da minha mãe era convertido e dar um dvd de ‘Jesus’ era, para muitos, o mesmo que jogar dinheiro fora. Porque não um brinquedo? Porque não uma roupa? Mas no fundo eu sabia que dava um bom presente.
Fiquei hospedada na casa do Kaio e a primeira vez que eu o vi ele estava diante da TV, assistindo um dvd de pagode e, fazendo do seu caminhão um tambor, ele imitava todos os movimentos de um dos vocalistas. Confesso que vê-lo tão concentrado nas batidas da música me intimidou e por um momento eu pensei em desistir de entregar o presente. Mas dei e ele quis assistir. Uma, duas, três... inúmeras vezes. A cada instante ele pedia pra repetir o dvd de ‘Jesus’. Ele estava fascinado! Seus olhinhos não piscavam e ele cantava, com seu simples vocabulário, todas as musiquinhas do dvd.
Passei pouco mais de uma semana lá, orando para que através daquele dvd algo acontecesse no meio da família. Contar como era a família, também daria um outro post.
O tempo passou e algumas coisas foram acontecendo. A mãe do Kaio começou a frequentar a igreja e a avó dele também. Ele, nem se fala, virou um frequentador assíduo. Com seu pequeno tamanho conseguia levar todos da casa com ele. E era encantador saber notícias de que ele aprendera a cantar louvores, ler a Bíblia e entender a mensagem do Evangelho. Algumas coisas mudaram, milagres aconteceram e no início desse mês recebi a notícia de que as duas se batizaram e estão trilhando um novo caminho. O que era impossível aos olhos humanos, tornou-se real. É nítida a mudança da família e a paz já reina naquele lar.
E saber que um dvd infantil contribuiu em grande parte neste milagre! E saber que o dvd foi dado a uma criança! E saber que o dvd foi comprado a partir de uma oferta missionária!
Se as pessoas soubessem que muitos testemunhos como esse acontecem a partir de uma oferta missionária... E também de quantos outros deixam de acontecer pela falta da mesma! Certa vez aprendi algo que, desde então, carrego comigo. Missões são feitas através dos pés dos que vâo, dos joelhos dos que oram e das mãos dos que abençoam (financiam!!!). Mas, claro, isso já é assunto para um novo post!
Um dos meus amigos, o Marcos, também tinha acabado de chegar. Ele estava trabalhando em Minas e, de férias, resolvera passar alguns dias no Espírito Santo, na casa dos pais. E, saudoso, também fora me ver.
Durante nossa conversa e em meio a tantos testemunhos, Marcos me entregou um envelope. Dentro, havia uma oferta que ele havia separado do seu 13º. para mim. Eram R$ 100,00. Eu agradeci e logo comecei a pensar o que faria com o dinheiro. Planos não faltavam.
Estava com viagem marcada para São Paulo. Minha família iria passar as festas de fim de ano por lá e eu também decidi ir. A forma como eu consegui o dinheiro das passagens daria um novo post! Fiz um ‘brechó’ de roupas que eu não usava mais: terninhos, vestidos... enfim. Consegui o dinheiro das passagens de ida e volta de avião pra Sampa e passaria o reveillon com a família da minha mãe.
Já estava na semana de viajar quando decidi, com a oferta, comprar três dvds. Não eram quaisquer ‘dvds’. Eram dvds com mensagens evangelísticas, mas infantis. Eram para meus três priminhos: Kaio, Pedro e Juliana. Os meninos tinham 3 anos e a Jú, que já tinha enfrentado uma meningite anos anteriores, era mais velha, mas não lembro a idade certa. Essa minha priminha guerreira também daria um outro post.
Enfim... Cheguei em SP e a primeira coisa que fiz foi distribuir os presentes. Ninguém da família da minha mãe era convertido e dar um dvd de ‘Jesus’ era, para muitos, o mesmo que jogar dinheiro fora. Porque não um brinquedo? Porque não uma roupa? Mas no fundo eu sabia que dava um bom presente.
Fiquei hospedada na casa do Kaio e a primeira vez que eu o vi ele estava diante da TV, assistindo um dvd de pagode e, fazendo do seu caminhão um tambor, ele imitava todos os movimentos de um dos vocalistas. Confesso que vê-lo tão concentrado nas batidas da música me intimidou e por um momento eu pensei em desistir de entregar o presente. Mas dei e ele quis assistir. Uma, duas, três... inúmeras vezes. A cada instante ele pedia pra repetir o dvd de ‘Jesus’. Ele estava fascinado! Seus olhinhos não piscavam e ele cantava, com seu simples vocabulário, todas as musiquinhas do dvd.
Passei pouco mais de uma semana lá, orando para que através daquele dvd algo acontecesse no meio da família. Contar como era a família, também daria um outro post.
O tempo passou e algumas coisas foram acontecendo. A mãe do Kaio começou a frequentar a igreja e a avó dele também. Ele, nem se fala, virou um frequentador assíduo. Com seu pequeno tamanho conseguia levar todos da casa com ele. E era encantador saber notícias de que ele aprendera a cantar louvores, ler a Bíblia e entender a mensagem do Evangelho. Algumas coisas mudaram, milagres aconteceram e no início desse mês recebi a notícia de que as duas se batizaram e estão trilhando um novo caminho. O que era impossível aos olhos humanos, tornou-se real. É nítida a mudança da família e a paz já reina naquele lar.
E saber que um dvd infantil contribuiu em grande parte neste milagre! E saber que o dvd foi dado a uma criança! E saber que o dvd foi comprado a partir de uma oferta missionária!
Se as pessoas soubessem que muitos testemunhos como esse acontecem a partir de uma oferta missionária... E também de quantos outros deixam de acontecer pela falta da mesma! Certa vez aprendi algo que, desde então, carrego comigo. Missões são feitas através dos pés dos que vâo, dos joelhos dos que oram e das mãos dos que abençoam (financiam!!!). Mas, claro, isso já é assunto para um novo post!
quarta-feira, 16 de junho de 2010
A sabedoria de Vó Domingas
Sua idade era desconhecida
Mas sua sabedoria era vista
Nas histórias que contava
Nas coisas que dizia.
Ela não era doutora
E falar bem também não sabia.
Mas a todos que se aproximavam
Vó Domingas lhes dizia:
“Deus que te abençoa, guri.
Deus é quem te guia”.
Seus braços eram franzinos
Mas não a impediam de trabalhar.
De dia pilava o arroz todinho
À noite, a mandioca pra ‘cascar’.
A lepra atacou seus pés
Mas ela não deixou de caminhar.
Por Retiro São Bento e por outros cantos
Que sua vontade a fazia buscar.
E onde chegava dizia:
“Vim aqui mas vô vortá pro meu lugá!”
Criou mais de 20 filhos
Uns do ventre e outros do coração.
A matriarca da família
Também juntava os netos na adoção.
Todos vinham até ela
E se juntavam ao redor do fogo a lenha.
Pra ouvir as suas histórias
E compartilhar de suas lendas.
E se alguém ficava doente:
“Vem guri, tomá banho de laranjeira!”
Ler ela não sabia
E em escola nunca entrou.
Mas o tempo lhe deu diploma
E a vida foi quem carimbou.
Conhecê-la foi um presente
E eu agora vou falar:
“Vó Domingas me ensine
O que os livros não me puderam dar.
Deixe-me aprender contigo
O que eu vim pra ministrar.
Diante de ti sou só uma menina
Crua e inexperiente
Dá-me um pouco de sua sabedoria
Para que eu possa seguir em frente.
E com minhas letras e poema
Te farei conhecida...
Pelo mundo e para sempre!”
Mas sua sabedoria era vista
Nas histórias que contava
Nas coisas que dizia.
Ela não era doutora
E falar bem também não sabia.
Mas a todos que se aproximavam
Vó Domingas lhes dizia:
“Deus que te abençoa, guri.
Deus é quem te guia”.
Seus braços eram franzinos
Mas não a impediam de trabalhar.
De dia pilava o arroz todinho
À noite, a mandioca pra ‘cascar’.
A lepra atacou seus pés
Mas ela não deixou de caminhar.
Por Retiro São Bento e por outros cantos
Que sua vontade a fazia buscar.
E onde chegava dizia:
“Vim aqui mas vô vortá pro meu lugá!”
Criou mais de 20 filhos
Uns do ventre e outros do coração.
A matriarca da família
Também juntava os netos na adoção.
Todos vinham até ela
E se juntavam ao redor do fogo a lenha.
Pra ouvir as suas histórias
E compartilhar de suas lendas.
E se alguém ficava doente:
“Vem guri, tomá banho de laranjeira!”
Ler ela não sabia
E em escola nunca entrou.
Mas o tempo lhe deu diploma
E a vida foi quem carimbou.
Conhecê-la foi um presente
E eu agora vou falar:
“Vó Domingas me ensine
O que os livros não me puderam dar.
Deixe-me aprender contigo
O que eu vim pra ministrar.
Diante de ti sou só uma menina
Crua e inexperiente
Dá-me um pouco de sua sabedoria
Para que eu possa seguir em frente.
E com minhas letras e poema
Te farei conhecida...
Pelo mundo e para sempre!”
quinta-feira, 3 de junho de 2010
A Escola
Passava da hora do almoço quando chegamos em Retiro São Bento. A viagem que nos levou até lá fora bem emocionante e o percurso de 186 km (Do centro de Barão de Melgaço até o Retiro) nos revelou o cenário exuberante do coração do Pantanal. Eram 5hs quando nossa equipe entrou no carro de funerária (O carro fretado que nos levaria em parte da viagem) para enfrentar a viagem que prometia ser bem dificil, devido às condições da estrada. Nessa época do ano nem carro e nem barco passam por lá, só mesmo de trator, com uma charrete acoplada na traseira, é que as pessoas conseguem chegar em São Bento. No trator, quase atolamos, quase caímos, quase viramos comida de jacaré, mas enfim, chegamos!
Retiro São Bento é uma vila, formada por aproximadamente 25 famílias, a maioria descendente de duas famílias: a do seu Neco (cujo pai foi o fundador do vilarejo) e da índia Domingas. Todos moram bem perto, talvez prá compensar a 'lonjura' que é chegar nesse lugar, isolado de tudo, no coração do Pantanal. Suas casas são de pau a pique, cobertas por palha e com pouca ou nenhuma mobília. Uma cisterna abastecia de água toda a comunidade e uma escola, bem no meio do Vilarejo, era a responsável pela Educação das crianças da comunidade.
Em apenas uma sala de aula, 16 crianças das mais variadas idades e niveis de conhecimento tentavam aprender noções básicas de Português e Matemática sob o esforço sobre humano do professor Zezinho. A escola estava bem danificada. Suas paredes estavam sujas e descascadas, as portas não tinham fechadura, alguns vidros das janelas estavam quebrados, assim como algumas telhas também. A estrutura não era nada animadora, principalmente para um ambiente escolar.
A escola também era a única estrutura usada pela comunidade para celebrar cultos, festas e reuniões. Era o centro de todos os eventos e datas importantes. Era o 'point' e a referência para tudo e para todos. E lá estava a escola, caindo aos pedaços... E lá estávamos nós, com a missão de levar o Reino de Deus para Retiro São Bento...
Desde que foi fundada, em 1995, a escola nunca fora reformada. Fazer isso em apenas uma semana nos parecia dificil demais, mas não impossível. Era manhã de terça-feira quando, juntamente com o professor, fomos de casa em casa e para todas as famílias compartilhamos sobre a necessidade de reforma da escola e da importância de toda a comunidade ajudar. Passamos toda a manhã e parte da tarde, mas arrecadamos dinheiro suficiente para a compra de tintas e de outros materiais que ainda viriam de Cuiabá e de Barão.
O mutirão foi marcado para o final de semana e no final de semana lá estavam, todos os homens da comunidade. Muitos abriram mão do trabalho e de outros compromissos para estar lá, contribuindo com o que sabiam, dando o que tinham. De toda a comunidade ouvimos os comentários surpresos de pessoas que nunca tinham visto a comunidade unida em prol de um bem comum. As diferenças foram deixadas de lado e lá estava o povo, com a mão na massa, mais precisamente na massa corrida, transformando a escola.
Uma semana depois, exatamente na terça-feira, a escola ficou pronta. Mais uma vez a comunidade se uniu e preparou um bolo enorme para a inauguração. "A escola ficou linda, nem quando foi fundada ela ficou tão linda assim" era o que todos diziam. Mas lindo mesmo foi ver a comunidade unida no trabalho e orgulhosa pelo resultado, pelo fruto de suas próprias mãos.
Sabe, isso é Reino de Deus. Deus não se preocupa apenas com a salvação da alma. Ele também se preocupa com o desenvolvimento de uma comunidade, com a reforma de sua única escola. Pois é Ele o maior 'Reformador'. Ele é especialista em transformar coisas velhas, feias e sem graça em 'lindas escolas'. É isso o que Ele sempre fez. É isso o que Ele sempre faz. Foi isso que Ele fez em minha vida e é isso o que Ele deseja fazer com o mundo todo.
Passamos duas semanas em Retiro e com certeza, a reforma da escola foi o marco de muitas coisas que ainda acontecerão nesta comunidade. Em mim ficou marcado e como uma boa saudosista, ficaram também as doces lembranças de um povo guerreiro que unido pode muito, muito mais. Hoje estou em Barão, ainda com forças para mais duas semanas de missões nas terras pantaneiras. A saudade tem apertado bastante, mas ontem, o abraço do menino Inácio de boas-vindas me fez sentir que há muito ainda que fazer por aqui.
Até a próxima amigos...
Retiro São Bento é uma vila, formada por aproximadamente 25 famílias, a maioria descendente de duas famílias: a do seu Neco (cujo pai foi o fundador do vilarejo) e da índia Domingas. Todos moram bem perto, talvez prá compensar a 'lonjura' que é chegar nesse lugar, isolado de tudo, no coração do Pantanal. Suas casas são de pau a pique, cobertas por palha e com pouca ou nenhuma mobília. Uma cisterna abastecia de água toda a comunidade e uma escola, bem no meio do Vilarejo, era a responsável pela Educação das crianças da comunidade.
Em apenas uma sala de aula, 16 crianças das mais variadas idades e niveis de conhecimento tentavam aprender noções básicas de Português e Matemática sob o esforço sobre humano do professor Zezinho. A escola estava bem danificada. Suas paredes estavam sujas e descascadas, as portas não tinham fechadura, alguns vidros das janelas estavam quebrados, assim como algumas telhas também. A estrutura não era nada animadora, principalmente para um ambiente escolar.
A escola também era a única estrutura usada pela comunidade para celebrar cultos, festas e reuniões. Era o centro de todos os eventos e datas importantes. Era o 'point' e a referência para tudo e para todos. E lá estava a escola, caindo aos pedaços... E lá estávamos nós, com a missão de levar o Reino de Deus para Retiro São Bento...
Desde que foi fundada, em 1995, a escola nunca fora reformada. Fazer isso em apenas uma semana nos parecia dificil demais, mas não impossível. Era manhã de terça-feira quando, juntamente com o professor, fomos de casa em casa e para todas as famílias compartilhamos sobre a necessidade de reforma da escola e da importância de toda a comunidade ajudar. Passamos toda a manhã e parte da tarde, mas arrecadamos dinheiro suficiente para a compra de tintas e de outros materiais que ainda viriam de Cuiabá e de Barão.
O mutirão foi marcado para o final de semana e no final de semana lá estavam, todos os homens da comunidade. Muitos abriram mão do trabalho e de outros compromissos para estar lá, contribuindo com o que sabiam, dando o que tinham. De toda a comunidade ouvimos os comentários surpresos de pessoas que nunca tinham visto a comunidade unida em prol de um bem comum. As diferenças foram deixadas de lado e lá estava o povo, com a mão na massa, mais precisamente na massa corrida, transformando a escola.
Uma semana depois, exatamente na terça-feira, a escola ficou pronta. Mais uma vez a comunidade se uniu e preparou um bolo enorme para a inauguração. "A escola ficou linda, nem quando foi fundada ela ficou tão linda assim" era o que todos diziam. Mas lindo mesmo foi ver a comunidade unida no trabalho e orgulhosa pelo resultado, pelo fruto de suas próprias mãos.
Sabe, isso é Reino de Deus. Deus não se preocupa apenas com a salvação da alma. Ele também se preocupa com o desenvolvimento de uma comunidade, com a reforma de sua única escola. Pois é Ele o maior 'Reformador'. Ele é especialista em transformar coisas velhas, feias e sem graça em 'lindas escolas'. É isso o que Ele sempre fez. É isso o que Ele sempre faz. Foi isso que Ele fez em minha vida e é isso o que Ele deseja fazer com o mundo todo.
Passamos duas semanas em Retiro e com certeza, a reforma da escola foi o marco de muitas coisas que ainda acontecerão nesta comunidade. Em mim ficou marcado e como uma boa saudosista, ficaram também as doces lembranças de um povo guerreiro que unido pode muito, muito mais. Hoje estou em Barão, ainda com forças para mais duas semanas de missões nas terras pantaneiras. A saudade tem apertado bastante, mas ontem, o abraço do menino Inácio de boas-vindas me fez sentir que há muito ainda que fazer por aqui.
Até a próxima amigos...
segunda-feira, 17 de maio de 2010
O aniversário do Inácio
Nunca conheci nenhuma criança chamada Inácio. Prá mim, Inácio sempre foi nome de adulto. De adulto e de presidente, só. Até que aqui, em Barão de Melgaço, essa linda cidade pantaneira, fui apresentada a um garotinho franzino, de cabelos claros e crespos, de cabecinha redonda e sorriso cerrado nos lábios. De poucas expressões, mas de um olhar profundo e brilhante. Ele é filho de um casal da igreja com que temos trabalhado. Já estamos na quarta semana e colecionamos muitos amigos por aqui. Ele também mora nos arredores e sempre vem nos visitar.
Inácio tinha um sonho. Já se aproximava sua quarta primavera e tudo que ele mais queria era uma festinha. Ele nunca teve uma festa de aniversário. Sua família, bastante carente, nunca teve condições de lhe proporcionar tamanha alegria. Mas, devido a insistência de Inácio, sua mãe decidiu usar o dinheiro do 'Bolsa Família' para fazer a festa.
O dia marcado era sábado. Após o culto tradicional, o salão da igreja seria o cenário do sonho de Inácio. Fiquei reparando nas pessoas que chegavam. Havia muitos rostos diferentes, provavelmente convidados de Inácio. Ele, no entanto, pouco os percebia. Estava sentado, num dos primeiros bancos, de vermelho e jeans, apertava os dedos da mão, numa demonstração clássica de nervosismo e ansiedade. A cada cinco segundos seu olhar buscava a porta. Onde estaria o bolo? Quando então as luzes se apagaram e o bolo, de cobertura azul, apontou na entrada da igreja, Inácio deu o mais belo sorriso de todo o Pantanal. Num pulo ele foi parar na reta por onde o bolo passaria. Ninguém conseguirá definir em palavras o tamanho da felicidade de Inácio.
Horas antes, ajudamos a encher as bexigas do aniversário e fizemos uma vaquinha pra comprar um presentinho. Sabe, não havia muitas coisas na festinha, era o bolo, pipocas, refrigerantes, algumas bexigas e quase nenhum presente. Mas para Inácio, bom para Inácio era o paraíso! Era a realização de um sonho, do seu tão esperado sonho... Feliz aniversário Inácio!
ATIVIDADES
Além de termos o privilégio de compartilhar e contribuir com a alegria do povo pantaneiro, nessas últimas duas semanas nós fizemos diversas atividades. Evangelizamos em escolas, no Festival de Pesca, ensinamos na igreja, fizemos visitas na vizinhança e um censo para conhecer melhor a comunidade da Vila do Recreio, onde temos morado.
Percebemos que a maioria das pessoas não terminou o Ensino Fundamental, não têm os documentos básicos e nem um emprego estável. Temos encorajado a igreja local a ser resposta a essas e outras necessidades. Nessa semana, vamos para Retiro São Bento e São Pedro de Joselândia, no coração do pantanal. Lá nosso desafio será ainda maior. Quer ir comigo?
Inácio tinha um sonho. Já se aproximava sua quarta primavera e tudo que ele mais queria era uma festinha. Ele nunca teve uma festa de aniversário. Sua família, bastante carente, nunca teve condições de lhe proporcionar tamanha alegria. Mas, devido a insistência de Inácio, sua mãe decidiu usar o dinheiro do 'Bolsa Família' para fazer a festa.
O dia marcado era sábado. Após o culto tradicional, o salão da igreja seria o cenário do sonho de Inácio. Fiquei reparando nas pessoas que chegavam. Havia muitos rostos diferentes, provavelmente convidados de Inácio. Ele, no entanto, pouco os percebia. Estava sentado, num dos primeiros bancos, de vermelho e jeans, apertava os dedos da mão, numa demonstração clássica de nervosismo e ansiedade. A cada cinco segundos seu olhar buscava a porta. Onde estaria o bolo? Quando então as luzes se apagaram e o bolo, de cobertura azul, apontou na entrada da igreja, Inácio deu o mais belo sorriso de todo o Pantanal. Num pulo ele foi parar na reta por onde o bolo passaria. Ninguém conseguirá definir em palavras o tamanho da felicidade de Inácio.
Horas antes, ajudamos a encher as bexigas do aniversário e fizemos uma vaquinha pra comprar um presentinho. Sabe, não havia muitas coisas na festinha, era o bolo, pipocas, refrigerantes, algumas bexigas e quase nenhum presente. Mas para Inácio, bom para Inácio era o paraíso! Era a realização de um sonho, do seu tão esperado sonho... Feliz aniversário Inácio!
ATIVIDADES
Além de termos o privilégio de compartilhar e contribuir com a alegria do povo pantaneiro, nessas últimas duas semanas nós fizemos diversas atividades. Evangelizamos em escolas, no Festival de Pesca, ensinamos na igreja, fizemos visitas na vizinhança e um censo para conhecer melhor a comunidade da Vila do Recreio, onde temos morado.
Percebemos que a maioria das pessoas não terminou o Ensino Fundamental, não têm os documentos básicos e nem um emprego estável. Temos encorajado a igreja local a ser resposta a essas e outras necessidades. Nessa semana, vamos para Retiro São Bento e São Pedro de Joselândia, no coração do pantanal. Lá nosso desafio será ainda maior. Quer ir comigo?
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Meu Pé-Di-Reito-Sem-Unha
Sempre ouvi dizer que entrar num lugar com o pé direito era sinal de sorte. Há quem faça malabarismos para sair da cama e pisar no chão, primeiro, com o pé direito. Se isso atrai bons fluidos em não sei, só sei que meu pé direito tem passado por maus bocados...
Ainda estava em Vitória quando percebi algo estranho na unha do dedão. Ela estava escura, fofa e solta. Não sei ao certo quando começou, mas depois qeu percebi, não tirei mais os olhos da unha. Também não sei ao certo a razão dela ter ficado assim, imagino ter sido por causa de um sapato fechado e apertado que eu usei. Mas há quem diga que o motivo foi a ação de fungos, outros, que a culpa foi da pobre da manicure que fez meu pé há muito tempo. A razão eu não sei, mas desde então, por via das dúvidas, não usei mais sapatos, nem fui à manicure e fiquei bastante atenta para não deixar nenhum bichinho chegar perto do meu dedão.
Os dias foram passando e a unha não melhorou, apesar dos meus cuidados. Tive que me acostumar à nova rotina de não pisar de qualquer jeito e nem em qualquer lugar. Mas ainda assim tive de tomar a dificil decisão de cortar a unha, jogar fora a parte podre e deixá-la ainda mais exposta.
Dramas à parte, foi uma decisão dificíl. Quem nunca levou uma topada ou arrancou a cabeça do dedão que atire a primeira pedra. Eu estava com medo. Medo de sentir dor, medo da vergonha de ter um dedo sem unha. Medo da situação piorar. Mas era a única saída: enfrentar o alicate.
Bom, bonito, bonito meu dedo não ficou, como pode-se ver pela foto. Mas, com os meus cuidados ele está melhorando. Ele está ficando saudável. E não precisa ser bonito, o que importa é ter saúde, não é isso o que dizem?!!...rs...
E ele, o meu pé direito, tem me acompanhado. Esteve comigo no comissionamento em Vitória, entrou comigo no avião para Cuiabá, tem suado comigo nos dias quentes dessa terra tão linda, tem mergulhado nos rios pantaneiros, tem entrado nos lares desse povo simples, hospitaleiro e de fala corrida, tem conhecido e compartilhado de sua cultura, de sua comida, de seus costumes... Apesar de sua debilidade, ele tem cumprido fielmente sua missão: Tem me conduzido, dia após dia...
E enquanto escrevo vem à minha cabeça que minha vida bem poderia ser comparada ao meu pé direito. Às vezes partes de mim estão feridas e machucadas, talvez devido a escolha de entrar em "sapatos fechados e apertados", ou ainda, não por culpa minha, mas pelo fato de ser atacada por "fungos". Ou, quem sabe, por permitir que 'manicures' mexam onde não deveriam. Nunca será fácil enfrentar o 'alicate da cura', mas meu descanso é saber que assim como estou cuidando do meu pé direito, há Alguém, maior do que eu, cuidando de mim.
Ah, e é claro, ainda existe aquela promessa: 'Quão formosos são os pés dos que...', bom, acho que todo mundo sabe o restante!
DESAFIO PANTANAL
De: 21 de abril a 15 de junho
Atividades: Ações sociais e humanitárias, evangelismo, discipulado, recreação infantil, palestras em escolas, impactos em praças, igrejas e ruas.
Como ajudar: Oração e apoio financeiro.
Contato: fabiana.tostes@hotmail.com
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Agência: 1034
Conta Poupança: 00003990-0
Variação: 013
Ainda estava em Vitória quando percebi algo estranho na unha do dedão. Ela estava escura, fofa e solta. Não sei ao certo quando começou, mas depois qeu percebi, não tirei mais os olhos da unha. Também não sei ao certo a razão dela ter ficado assim, imagino ter sido por causa de um sapato fechado e apertado que eu usei. Mas há quem diga que o motivo foi a ação de fungos, outros, que a culpa foi da pobre da manicure que fez meu pé há muito tempo. A razão eu não sei, mas desde então, por via das dúvidas, não usei mais sapatos, nem fui à manicure e fiquei bastante atenta para não deixar nenhum bichinho chegar perto do meu dedão.
Os dias foram passando e a unha não melhorou, apesar dos meus cuidados. Tive que me acostumar à nova rotina de não pisar de qualquer jeito e nem em qualquer lugar. Mas ainda assim tive de tomar a dificil decisão de cortar a unha, jogar fora a parte podre e deixá-la ainda mais exposta.
Dramas à parte, foi uma decisão dificíl. Quem nunca levou uma topada ou arrancou a cabeça do dedão que atire a primeira pedra. Eu estava com medo. Medo de sentir dor, medo da vergonha de ter um dedo sem unha. Medo da situação piorar. Mas era a única saída: enfrentar o alicate.
Bom, bonito, bonito meu dedo não ficou, como pode-se ver pela foto. Mas, com os meus cuidados ele está melhorando. Ele está ficando saudável. E não precisa ser bonito, o que importa é ter saúde, não é isso o que dizem?!!...rs...
E ele, o meu pé direito, tem me acompanhado. Esteve comigo no comissionamento em Vitória, entrou comigo no avião para Cuiabá, tem suado comigo nos dias quentes dessa terra tão linda, tem mergulhado nos rios pantaneiros, tem entrado nos lares desse povo simples, hospitaleiro e de fala corrida, tem conhecido e compartilhado de sua cultura, de sua comida, de seus costumes... Apesar de sua debilidade, ele tem cumprido fielmente sua missão: Tem me conduzido, dia após dia...
E enquanto escrevo vem à minha cabeça que minha vida bem poderia ser comparada ao meu pé direito. Às vezes partes de mim estão feridas e machucadas, talvez devido a escolha de entrar em "sapatos fechados e apertados", ou ainda, não por culpa minha, mas pelo fato de ser atacada por "fungos". Ou, quem sabe, por permitir que 'manicures' mexam onde não deveriam. Nunca será fácil enfrentar o 'alicate da cura', mas meu descanso é saber que assim como estou cuidando do meu pé direito, há Alguém, maior do que eu, cuidando de mim.
Ah, e é claro, ainda existe aquela promessa: 'Quão formosos são os pés dos que...', bom, acho que todo mundo sabe o restante!
DESAFIO PANTANAL
De: 21 de abril a 15 de junho
Atividades: Ações sociais e humanitárias, evangelismo, discipulado, recreação infantil, palestras em escolas, impactos em praças, igrejas e ruas.
Como ajudar: Oração e apoio financeiro.
Contato: fabiana.tostes@hotmail.com
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Agência: 1034
Conta Poupança: 00003990-0
Variação: 013
segunda-feira, 22 de março de 2010
RUMO AO PANTANAL
‘Àquele que fez o céu, o mar e a fonte das águas’
É bom poder voltar aqui e compartilhar com vocês, amigos, os desafios que Deus tem nos proporcionado. São muitas atividades, muitos projetos e muitos sonhos também. E o melhor de participar disso tudo é poder co-criar com Deus e escrever novas histórias...
Nosso desafio agora é lá no centro do Brasil, no Mato Grosso. A Eted (Escola de Treinamento e Discipulado), a qual sou obreira, foi desafiada a servir por dois meses numa das regiões mais belas do Brasil: o Pantanal.
Em meio a toda beleza da Criação, à diversidade da fauna e da flora presente nesta região, vamos também com o intuito de levar e refletir o amor de Deus aos povos ribeirinhos, ao humilde povo pantaneiro daquele lugar.
Nosso destino é a comunidade de São Pedro de Joselândia, que fica no município de Barão de Melgaço, a 180 km de Cuiabá. Segundo relatos de outros missionários, lá é uma região bastante carente, marcada pela idolatria e pelo alto índice de abuso de drogas e prostituição.
É uma terra muito sofrida, mas que possui um povo hospitaleiro e amado, muito amado por Deus. Estamos, neste tempo, buscando o coração de Deus por estratégias para alcançar e abençoar, de alguma forma, esta comunidade e queremos te incluir nesse grande propósito que primeiramente não é nosso, mas de Deus!
Vamos com uma equipe de 10 pessoas (Duas obreiras e oito alunos) e precisamos muito de suas orações e apoio financeiro. Os desafios estão relacionados abaixo e caso queira saber mais informações, entre em contato conosco: eted@jocumvitoria.org ou fabiana.tostes@hotmail.com
Desafios:
Ida: 21 de abril de 2010 (previsão)
Retorno: 15 de junho de 2010 (previsão)
Passagens de avião Vitória – Cuiabá –Vitória: R$ 512,64. (Pela Gol. Essa é uma previsão. Como ainda não compramos as passagens corremos o risco do valor aumentar à medida que a data da viagem se aproxima. Optamos por avião porque as passagens de ônibus são mais caras e a viagem dura mais de 30 horas).
Passagem Cuiabá – São Pedro de Joselândia – Cuiabá: R$ 100,00. (Essa viagem é feita por terra e por água, de trator e de barco).
Hospedagem: R$ 45,00 (Previsão. O que equivale ao aluguel da casa em que vamos morar durante o período prático no Pantanal).
Alimentação e gastos extras: R$ 100,00 (É o mínimo que precisamos para nos manter durante os dois meses. Precisamos de um valor extra para emergências e para a alimentação da equipe, caso a gente não consiga doações de alimentos).
Precisamos levar: Bota estilo galoxa (por causa da lama e da incidência de cobras), repelentes, remédios, rede, roupas de tactel, produtos de higiene e dinheiro para gastos pessoais.
Como ajudar?
Ore e dê uma lida em nossa lista de desafios. Tenho certeza que Deus te guiará para ajudar de alguma forma, seja por meio da sua oração, da sua influência ou da sua oferta. Queremos levar você conosco para o Pantanal e juntos, levar o Reino de Deus para lá.
Obrigada por mais uma vez sonhar comigo os sonhos de Deus!
É bom poder voltar aqui e compartilhar com vocês, amigos, os desafios que Deus tem nos proporcionado. São muitas atividades, muitos projetos e muitos sonhos também. E o melhor de participar disso tudo é poder co-criar com Deus e escrever novas histórias...
Nosso desafio agora é lá no centro do Brasil, no Mato Grosso. A Eted (Escola de Treinamento e Discipulado), a qual sou obreira, foi desafiada a servir por dois meses numa das regiões mais belas do Brasil: o Pantanal.
Em meio a toda beleza da Criação, à diversidade da fauna e da flora presente nesta região, vamos também com o intuito de levar e refletir o amor de Deus aos povos ribeirinhos, ao humilde povo pantaneiro daquele lugar.
Nosso destino é a comunidade de São Pedro de Joselândia, que fica no município de Barão de Melgaço, a 180 km de Cuiabá. Segundo relatos de outros missionários, lá é uma região bastante carente, marcada pela idolatria e pelo alto índice de abuso de drogas e prostituição.
É uma terra muito sofrida, mas que possui um povo hospitaleiro e amado, muito amado por Deus. Estamos, neste tempo, buscando o coração de Deus por estratégias para alcançar e abençoar, de alguma forma, esta comunidade e queremos te incluir nesse grande propósito que primeiramente não é nosso, mas de Deus!
Vamos com uma equipe de 10 pessoas (Duas obreiras e oito alunos) e precisamos muito de suas orações e apoio financeiro. Os desafios estão relacionados abaixo e caso queira saber mais informações, entre em contato conosco: eted@jocumvitoria.org ou fabiana.tostes@hotmail.com
Desafios:
Ida: 21 de abril de 2010 (previsão)
Retorno: 15 de junho de 2010 (previsão)
Passagens de avião Vitória – Cuiabá –Vitória: R$ 512,64. (Pela Gol. Essa é uma previsão. Como ainda não compramos as passagens corremos o risco do valor aumentar à medida que a data da viagem se aproxima. Optamos por avião porque as passagens de ônibus são mais caras e a viagem dura mais de 30 horas).
Passagem Cuiabá – São Pedro de Joselândia – Cuiabá: R$ 100,00. (Essa viagem é feita por terra e por água, de trator e de barco).
Hospedagem: R$ 45,00 (Previsão. O que equivale ao aluguel da casa em que vamos morar durante o período prático no Pantanal).
Alimentação e gastos extras: R$ 100,00 (É o mínimo que precisamos para nos manter durante os dois meses. Precisamos de um valor extra para emergências e para a alimentação da equipe, caso a gente não consiga doações de alimentos).
Precisamos levar: Bota estilo galoxa (por causa da lama e da incidência de cobras), repelentes, remédios, rede, roupas de tactel, produtos de higiene e dinheiro para gastos pessoais.
Como ajudar?
Ore e dê uma lida em nossa lista de desafios. Tenho certeza que Deus te guiará para ajudar de alguma forma, seja por meio da sua oração, da sua influência ou da sua oferta. Queremos levar você conosco para o Pantanal e juntos, levar o Reino de Deus para lá.
Obrigada por mais uma vez sonhar comigo os sonhos de Deus!
quinta-feira, 11 de março de 2010
MENINA, PORQUE NÃO SORRI?
Menina, porque não sorri?
Por que seu olhar não brilha mais?
Por que não se alegra com aquilo que faz?
Por que seu coração sempre pede mais?
Menina, porque não sorri?
O que você busca que ainda não tem?
O que você possui que não te faz bem?
O que é que ainda te mantém refém?
Menina, porque não sorri?
O que te deixa tão triste assim?
Que angústia é essa que parece não ter fim?
Por que não diz, por que não diz pra mim?
Menina, porque não sorri?
Por que te incomodas com o que é pequeno?
Por que deixa sua doçura virar veneno?
Por que se transformou em alguém que não conheço?
Menina, porque não sorri?
Será que é tudo isso e você não vê?
Que não adianta mais se esconder?
Que isso só irá te fazer sofrer?
Menina, porque não sorri?
Por que não se abre para a cura?
Por que rejeitas a minha ajuda?
Por que se apega à amargura?
Menina, porque não sorri?
Por que teus olhos estão sempre a chorar?
Por que me impede de te amar?
Por que não vem pros meus braços se acalmar?
Menina, porque não sorri?
Por que me priva do teu sorriso?
Por que não me deixa enrolar novamente seus cachichos?
Por que tão longe, tão longe do meu carinho?
Menina, porque não sorri?
Essa faz parte da minha outra série: 'Escrevo melhor quando estou triste!'
Por que seu olhar não brilha mais?
Por que não se alegra com aquilo que faz?
Por que seu coração sempre pede mais?
Menina, porque não sorri?
O que você busca que ainda não tem?
O que você possui que não te faz bem?
O que é que ainda te mantém refém?
Menina, porque não sorri?
O que te deixa tão triste assim?
Que angústia é essa que parece não ter fim?
Por que não diz, por que não diz pra mim?
Menina, porque não sorri?
Por que te incomodas com o que é pequeno?
Por que deixa sua doçura virar veneno?
Por que se transformou em alguém que não conheço?
Menina, porque não sorri?
Será que é tudo isso e você não vê?
Que não adianta mais se esconder?
Que isso só irá te fazer sofrer?
Menina, porque não sorri?
Por que não se abre para a cura?
Por que rejeitas a minha ajuda?
Por que se apega à amargura?
Menina, porque não sorri?
Por que teus olhos estão sempre a chorar?
Por que me impede de te amar?
Por que não vem pros meus braços se acalmar?
Menina, porque não sorri?
Por que me priva do teu sorriso?
Por que não me deixa enrolar novamente seus cachichos?
Por que tão longe, tão longe do meu carinho?
Menina, porque não sorri?
Essa faz parte da minha outra série: 'Escrevo melhor quando estou triste!'
sexta-feira, 5 de março de 2010
'Sequenãoseja'
Se me julgar, que não seja pelos meus amores...
Se me amparar, que não seja pelas minhas dores...
Se comigo andar, que não seja pelos meus temores...
Se me ofender, que não seja pra valer...
Se vier a mim, que não seja pra partir...
Se tiver dó, que não seja por mim só...
Se acontecer, que não seja por acaso...
Se acabado, que não seja por você...
Se eu morrer, que não seja do teu lado...
Se for a nado, que não seja para eu ver...
Se for falar, que não seja pra iludir...
Se for lutar, que não seja pra ferir...
Se for amar, que não seja pra mentir...
Se for viver, que não seja só por ti...
Da minha série: ‘Um dia eu ainda viro uma escritora!’...rs...
Se me amparar, que não seja pelas minhas dores...
Se comigo andar, que não seja pelos meus temores...
Se me ofender, que não seja pra valer...
Se vier a mim, que não seja pra partir...
Se tiver dó, que não seja por mim só...
Se acontecer, que não seja por acaso...
Se acabado, que não seja por você...
Se eu morrer, que não seja do teu lado...
Se for a nado, que não seja para eu ver...
Se for falar, que não seja pra iludir...
Se for lutar, que não seja pra ferir...
Se for amar, que não seja pra mentir...
Se for viver, que não seja só por ti...
Da minha série: ‘Um dia eu ainda viro uma escritora!’...rs...
Simples! Simples assim...
Minha sandália é de couro
Meu vestido é de chita
Meu laço é de papel
Meu cinto é de conchinha!
Meu coração é de manteiga
Minha conversa é curta
Meu sorriso é torto
Minha vida é dura!
Minha unha é encravada
Minha caneta é sem tampa
Meu mundo é engraçado
Meu cabelo me espanta!
Meu humor é oscilante
Meu caminho é sagaz
Meu tudo é num instante
Meu desejo? Ser só eu e ninguém mais!
Meu vestido é de chita
Meu laço é de papel
Meu cinto é de conchinha!
Meu coração é de manteiga
Minha conversa é curta
Meu sorriso é torto
Minha vida é dura!
Minha unha é encravada
Minha caneta é sem tampa
Meu mundo é engraçado
Meu cabelo me espanta!
Meu humor é oscilante
Meu caminho é sagaz
Meu tudo é num instante
Meu desejo? Ser só eu e ninguém mais!
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Uma poesia...
Ahh, quem me dera ter nascido uma poesia...
E ter os meus anos transformados em rimas,
Minhas vivências em versos singelos para combinar!
Quem me dera se meus passos fossem sílabas contadas,
Com linhas descritas e ordenadas
Perfeitas, sem nenhuma chance de errar!
Quem me dera se tivesse vírgulas para separar meus pensamentos
E palavras tão leves como o vento
Que um ponto final não as impedisse de voar!
Quem me dera se a vida não terminasse com a morte
Como a poesia não termina com a estrofe
E deixa livre aquela que vive a sonhar!
(Fabiana Tostes)
E ter os meus anos transformados em rimas,
Minhas vivências em versos singelos para combinar!
Quem me dera se meus passos fossem sílabas contadas,
Com linhas descritas e ordenadas
Perfeitas, sem nenhuma chance de errar!
Quem me dera se tivesse vírgulas para separar meus pensamentos
E palavras tão leves como o vento
Que um ponto final não as impedisse de voar!
Quem me dera se a vida não terminasse com a morte
Como a poesia não termina com a estrofe
E deixa livre aquela que vive a sonhar!
(Fabiana Tostes)
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Alcides e o Mundo
Eram 22 hs de domingo e eu acabava de colocar meu prato de janta no microondas quando uma notícia no Fantástico chamou minha atenção. Tinha acabado de chegar de uma igreja longe e o que eu menos queria fazer era parar em frente à TV, havia decidido jantar e ir dormir. Mas, os apresentadores começaram a falar de uma série que eles tinham produzido em 2007 chamada ‘Felicidade’ e de uma mulher, uma catadora de papelão, que havia traduzido muito bem o que era isso.
Não me lembro o nome da catadora, mas lembro do filho dela: Alcides. E a razão de sua felicidade era devido ao seu filho ter passado no vestibular para Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela pulava de alegria diante das câmeras e do resultado do vestibular, fixado no muro da faculdade.
Ela tinha razão de estar feliz! No nosso país, onde boa educação é para poucos e educação superior para pouco menos ainda, colocar um filho dentro de uma faculdade federal é um privilégio e tanto. Ainda mais ela, moradora do subúrbio, negra, catadora de papel, sem marido, que nunca teve condições de pagar uma escola particular... É, ela tinha razão de estar feliz.
Na época, tanto ela como o filho foram entrevistados e Alcides se tornou um ícone em todo país da inclusão social. Ele estava realizando seu grande sonho de ser, um dia, médico. Uma inspiração para outros na sua idade e até mesmo para seus outros irmãos, que passaram a estudar com diligência para também conseguir chegar lá.
Mas a reportagem não terminaria aí... A cena daquela mulher, que outrora pulava de alegria, era agora de tristeza. Na última sexta-feira, Alcides voltava da faculdade e já entrava em sua casa quando foi baleado com dois tiros na cabeça. Os assassinos, dois jovens rapazes, o confundiram com outra pessoa, atiraram e fugiram. Alcides chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu... Ali acabava o sonho de Alcides. Ali acabava a alegria de uma mãe.
A catadora mal podia ficar em pé diante do caixão do filho, morto. O reitor, os colegas de faculdade, a comunidade onde morava, todos tentaram ampará-la. Mas que humano pode consolar uma mãe que perde o filho, seu orgulho, seu tesouro? A reportagem terminou com a cena da terra sendo jogada em cima do caixão.
A notícia não durou mais de três minutos, mas foi suficiente para inundar de lágrimas meu prato de arroz, feijão e frango frito, que virou ensopado. Fui comer na cozinha para que meus pais não me vissem chorando e de lá sussurrei sozinha: ‘Por que?!’
Que mundo é esse tão mau que nós vivemos? Que mundo é esse que assassina cruelmente seus jovens mais promissores? Que mundo é esse que faz com que mães tão franzinas e tão batalhadoras sofram tanto? Que mundo é esse que deixa impune quem pratica tamanha maldade? Que mundo é esse cheio de tristeza, amargura e dor?
Em meio ao meu choro solitário e solidário olhei pros céus, que aqui foram representados pelo teto gorduroso da minha cozinha, e desejei mesmo ir embora desse mundo. “Não tem mais jeito! Não adianta, quanta injustiça!” foi o que me veio ao coração. Mas tão rápido quanto este pensamento foi o seguinte, que me surpreendeu: “Porque Deus amou o mundo (sim, esse mesmo mundo) de tal maneira...”.
Está vendo este mundo podre, cheio de mazelas, dor, injustiça e crueldade em que vivemos? Ele mesmo é alvo do amor de Deus. Deus o amou e deu o seu único Filho para salvá-lo. Não sei para você, mas é difícil para mim compreender tamanho amor. Eu, no lugar daquela catadora, não conseguiria sequer olhar para os assassinos que roubaram a vida do Alcides. Já Deus entregou seu filho à morte para que eu, a catadora, o Alcides, os dois assassinos e o mundo inteiro tivéssemos vida para sempre.
É preciso não sair daqui. É preciso ficar nesse mundo e lutar. Lutar por mudanças, lutar por justiça, lutar por amor. É preciso chorar, sentir a dor, deixar o nosso coração queimar para nos motivar a viver com um propósito, por um ideal e, se preciso for, dar a vida por isso. Sei que a comoção que sinto agora amanhã estará bem menor, mas é preciso não esquecer. Não colocar a cabeça no travesseiro e dormir como se a história do Alcides fosse só mais uma entre tantas... Na verdade, ela é mais uma, mas que hoje para nós ela seja suficiente para nos transformar e nos fazer transformar o mundo ao nosso redor.
Não me lembro o nome da catadora, mas lembro do filho dela: Alcides. E a razão de sua felicidade era devido ao seu filho ter passado no vestibular para Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela pulava de alegria diante das câmeras e do resultado do vestibular, fixado no muro da faculdade.
Ela tinha razão de estar feliz! No nosso país, onde boa educação é para poucos e educação superior para pouco menos ainda, colocar um filho dentro de uma faculdade federal é um privilégio e tanto. Ainda mais ela, moradora do subúrbio, negra, catadora de papel, sem marido, que nunca teve condições de pagar uma escola particular... É, ela tinha razão de estar feliz.
Na época, tanto ela como o filho foram entrevistados e Alcides se tornou um ícone em todo país da inclusão social. Ele estava realizando seu grande sonho de ser, um dia, médico. Uma inspiração para outros na sua idade e até mesmo para seus outros irmãos, que passaram a estudar com diligência para também conseguir chegar lá.
Mas a reportagem não terminaria aí... A cena daquela mulher, que outrora pulava de alegria, era agora de tristeza. Na última sexta-feira, Alcides voltava da faculdade e já entrava em sua casa quando foi baleado com dois tiros na cabeça. Os assassinos, dois jovens rapazes, o confundiram com outra pessoa, atiraram e fugiram. Alcides chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu... Ali acabava o sonho de Alcides. Ali acabava a alegria de uma mãe.
A catadora mal podia ficar em pé diante do caixão do filho, morto. O reitor, os colegas de faculdade, a comunidade onde morava, todos tentaram ampará-la. Mas que humano pode consolar uma mãe que perde o filho, seu orgulho, seu tesouro? A reportagem terminou com a cena da terra sendo jogada em cima do caixão.
A notícia não durou mais de três minutos, mas foi suficiente para inundar de lágrimas meu prato de arroz, feijão e frango frito, que virou ensopado. Fui comer na cozinha para que meus pais não me vissem chorando e de lá sussurrei sozinha: ‘Por que?!’
Que mundo é esse tão mau que nós vivemos? Que mundo é esse que assassina cruelmente seus jovens mais promissores? Que mundo é esse que faz com que mães tão franzinas e tão batalhadoras sofram tanto? Que mundo é esse que deixa impune quem pratica tamanha maldade? Que mundo é esse cheio de tristeza, amargura e dor?
Em meio ao meu choro solitário e solidário olhei pros céus, que aqui foram representados pelo teto gorduroso da minha cozinha, e desejei mesmo ir embora desse mundo. “Não tem mais jeito! Não adianta, quanta injustiça!” foi o que me veio ao coração. Mas tão rápido quanto este pensamento foi o seguinte, que me surpreendeu: “Porque Deus amou o mundo (sim, esse mesmo mundo) de tal maneira...”.
Está vendo este mundo podre, cheio de mazelas, dor, injustiça e crueldade em que vivemos? Ele mesmo é alvo do amor de Deus. Deus o amou e deu o seu único Filho para salvá-lo. Não sei para você, mas é difícil para mim compreender tamanho amor. Eu, no lugar daquela catadora, não conseguiria sequer olhar para os assassinos que roubaram a vida do Alcides. Já Deus entregou seu filho à morte para que eu, a catadora, o Alcides, os dois assassinos e o mundo inteiro tivéssemos vida para sempre.
É preciso não sair daqui. É preciso ficar nesse mundo e lutar. Lutar por mudanças, lutar por justiça, lutar por amor. É preciso chorar, sentir a dor, deixar o nosso coração queimar para nos motivar a viver com um propósito, por um ideal e, se preciso for, dar a vida por isso. Sei que a comoção que sinto agora amanhã estará bem menor, mas é preciso não esquecer. Não colocar a cabeça no travesseiro e dormir como se a história do Alcides fosse só mais uma entre tantas... Na verdade, ela é mais uma, mas que hoje para nós ela seja suficiente para nos transformar e nos fazer transformar o mundo ao nosso redor.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Enquanto é dia...
“Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” – Jo 9: 4-5.
Sim. Estamos em 2010! Eu não senti passar, mas já estamos precisamente no fim do primeiro mês do novo ano. Depois das tradicionais festas de fim de ano, olhei para 2010 e apresentei a ele as minhas expectativas. E ele olhou pra mim e me apresentou o trabalho, muito trabalho... E eis me aqui para compartilhar com vocês um pouquinho do que tem sido esse ano, que promete muito...
Aproveitei meu tempo de férias para estar mais próxima da igreja onde congrego. Iniciei uma série de estudos e implantamos um novo ministério, a Rede Ministerial. Seu objetivo é ajudar cada um a descobrir seus dons e encontrar sua vocação no Reino de Deus e Corpo de Cristo. Iniciar e dar asas a este ministério tem sido fascinante e desafiador. É maravilhoso ver pessoas caminhando em direção ao chamado de Deus e ao mesmo tempo é cansativo e penoso devido, sobretudo, à batalha espiritual que enfrento em cada reunião. Saio exausta, mas vale a pena!
Deus me direcionou a continuar na base de Jocum Vitória neste semestre e investir na área de Comunicação e Pesquisa, além de ajudar no desenvolvimento comunitário das mulheres de Flexal 2. Temos um grupo de 30 mulheres cadastradas que, a cada terça-feira, recebem alimentos de doação, oração e um tempo de dicas e conversa. Creio que ainda é muito pouco o que temos feito por elas, mas com certeza já é um começo e temos visto resultados. Nosso grande desafio com as mulheres da comunidade é o de tirá-las do alcoolismo. Ano passado levamos representantes do AA, que deram palestras, e já há quem queira fazer o tratamento.
Esse semestre também me comprometi a auxiliar na realização de mais uma Escola de Treinamento e Discipulado (Eted). Trata-se de uma escola de iniciação missionária, com duração de 5 meses, começa segunda-feira e por enquanto temos 9 alunos. Deus nos direcionou a termos uma escola transcultural, então, por isso parte dela será realizada numa comunidade que apresente uma cultura diferente da nossa. Pode ser aqui no Brasil ou fora. Temos orado e Deus tem trazido muitas ideias e desafios ao nosso coração, a forma que poderemos servir à nossa e a outras nações também, levando o Reino de Deus para tudo e para todos.
Agora em janeiro também aconteceu, em nossa base, um acampamento missionário para crianças e adolescentes, o que chamamos de campanha de King’s Kids. Tivemos 40 participantes, que aprenderam muito durante as ministrações e que ainda puderam compartilhar, doando-se na comunidade. Famílias de Flexal 2 receberam cestas básicas, janelas, roupas de cama e até um dia de beleza. Foi muito legal!
É... Muito trabalho! E confesso que tenho estado um pouco cansada. Mas Deus falou muito comigo através do texto de João, aquele que está lá em cima. Sabe, enquanto é dia, enquanto temos força, enquanto temos tempo, enquanto temos vida, façamos a vontade do Pai! Que nosso desejo enquanto estivermos nesse mundo seja o de ser luz, assim como foi Jesus, assim como Ele nos ensinou. Que Deus nos abençoe nessa nova jornada!
Alguns motivos de oração:
•Preciso mesmo receber força e graça do Senhor. Cansada, do jeito que estou, não terei ânimo pra tocar os projetos pra frente. E o ano só está começando...
•Ainda preciso de uma filmadora para dar início aos projetos de levar o Reino de Deus de forma visual.
•Minha família precisa conhecer a Deus, conhecer de verdade, plenamente...
•Preciso de um sustento financeiro maior para continuar como missionária em tempo integral. Moradia, alimentação, transporte, comunicação e higiene pessoal são compromissos mensais que eu tenho que arcar.
•Por projetos futuros e sonhos que Deus tem colocado no meu coração;
•Pela Eted, pelo projeto com Mulheres, pela área de Comunicação e Pesquisa.
E se vc quiser me ajudar mais...
Conta Poupança: 3990-0 operação: 013
Agência: 1034
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Sim. Estamos em 2010! Eu não senti passar, mas já estamos precisamente no fim do primeiro mês do novo ano. Depois das tradicionais festas de fim de ano, olhei para 2010 e apresentei a ele as minhas expectativas. E ele olhou pra mim e me apresentou o trabalho, muito trabalho... E eis me aqui para compartilhar com vocês um pouquinho do que tem sido esse ano, que promete muito...
Aproveitei meu tempo de férias para estar mais próxima da igreja onde congrego. Iniciei uma série de estudos e implantamos um novo ministério, a Rede Ministerial. Seu objetivo é ajudar cada um a descobrir seus dons e encontrar sua vocação no Reino de Deus e Corpo de Cristo. Iniciar e dar asas a este ministério tem sido fascinante e desafiador. É maravilhoso ver pessoas caminhando em direção ao chamado de Deus e ao mesmo tempo é cansativo e penoso devido, sobretudo, à batalha espiritual que enfrento em cada reunião. Saio exausta, mas vale a pena!
Deus me direcionou a continuar na base de Jocum Vitória neste semestre e investir na área de Comunicação e Pesquisa, além de ajudar no desenvolvimento comunitário das mulheres de Flexal 2. Temos um grupo de 30 mulheres cadastradas que, a cada terça-feira, recebem alimentos de doação, oração e um tempo de dicas e conversa. Creio que ainda é muito pouco o que temos feito por elas, mas com certeza já é um começo e temos visto resultados. Nosso grande desafio com as mulheres da comunidade é o de tirá-las do alcoolismo. Ano passado levamos representantes do AA, que deram palestras, e já há quem queira fazer o tratamento.
Esse semestre também me comprometi a auxiliar na realização de mais uma Escola de Treinamento e Discipulado (Eted). Trata-se de uma escola de iniciação missionária, com duração de 5 meses, começa segunda-feira e por enquanto temos 9 alunos. Deus nos direcionou a termos uma escola transcultural, então, por isso parte dela será realizada numa comunidade que apresente uma cultura diferente da nossa. Pode ser aqui no Brasil ou fora. Temos orado e Deus tem trazido muitas ideias e desafios ao nosso coração, a forma que poderemos servir à nossa e a outras nações também, levando o Reino de Deus para tudo e para todos.
Agora em janeiro também aconteceu, em nossa base, um acampamento missionário para crianças e adolescentes, o que chamamos de campanha de King’s Kids. Tivemos 40 participantes, que aprenderam muito durante as ministrações e que ainda puderam compartilhar, doando-se na comunidade. Famílias de Flexal 2 receberam cestas básicas, janelas, roupas de cama e até um dia de beleza. Foi muito legal!
É... Muito trabalho! E confesso que tenho estado um pouco cansada. Mas Deus falou muito comigo através do texto de João, aquele que está lá em cima. Sabe, enquanto é dia, enquanto temos força, enquanto temos tempo, enquanto temos vida, façamos a vontade do Pai! Que nosso desejo enquanto estivermos nesse mundo seja o de ser luz, assim como foi Jesus, assim como Ele nos ensinou. Que Deus nos abençoe nessa nova jornada!
Alguns motivos de oração:
•Preciso mesmo receber força e graça do Senhor. Cansada, do jeito que estou, não terei ânimo pra tocar os projetos pra frente. E o ano só está começando...
•Ainda preciso de uma filmadora para dar início aos projetos de levar o Reino de Deus de forma visual.
•Minha família precisa conhecer a Deus, conhecer de verdade, plenamente...
•Preciso de um sustento financeiro maior para continuar como missionária em tempo integral. Moradia, alimentação, transporte, comunicação e higiene pessoal são compromissos mensais que eu tenho que arcar.
•Por projetos futuros e sonhos que Deus tem colocado no meu coração;
•Pela Eted, pelo projeto com Mulheres, pela área de Comunicação e Pesquisa.
E se vc quiser me ajudar mais...
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