Sempre depois de assistir a programas de retrospectivas fico me perguntando se um dia eu vou conseguir fazer algo parecido, mas com a minha vida. Queria condensar tudo que me aconteceu em 2011, com as devidas proporções e inspirações de cada fato marcante. Mas sempre deixo algo de fora... Mas, numa teimosa tentativa, estou eu aqui, vamo ver no que vai dar...
Comecei 2011 com um peso enorme no coração para tomar algumas decisões. Aliás, se esse ano tivesse um tema, talvez fosse algo assim: o Ano das Decisões. Acho que não só pra mim, mas creio que 2011 foi um divisor de águas na vida de muita gente que conheço e nas mais diversas áreas.
Diferentes direcionamentos, alguns sonhos frustrados, planos que não saíram do papel. Também inusitados reencontros, algumas descobertas e surpresas grandes e pequenas. Crises. Rompimentos. Alegrias. Turbilhão de emoções e sentimentos. É, 2011 foi um ano e tanto!
Depois de cinco anos morando numa agência missionária, viajando pelo Brasil afora, implantando projetos, desenvolvendo comunidades carentes, conhecendo pessoas e suas histórias, volto à carreira jornalística – da qual, no íntimo, nunca me separei. Voltar ao jornal A Tribuna não foi planejado. Não foi nem sequer desejado, mas estou muito feliz, principalmente da forma como tudo aconteceu. “A menina entusiasmada que corria em busca da manchete policial voltou, reformulada, mas com a mesma essência”, ouvi de um colega de trabalho que me descrevia durante uma confraternização.
Foi difícil deixar a base da Jocum. Acho que no fundo continuo ligada pelo DNA, mas não estar mais lá deixou em mim um buraco, difícil de ser preenchido. Os últimos cinco anos foram os mais fascinantes da minha vida e, no início, fiquei apavorada com a possibilidade de viver distante de tudo que eu passei nesse tempo. Mas, sei que a decisão de atuar num outro campo foi certeira.
De carona também decidi ter uma vida cristã mais simples. Fora da instituição e longe de ritos e títulos. Decidi apenas caminhar com Cristo. Sendo motivada apenas por Ele para fazer e não fazer. Permitir que Ele me fale ao ouvido. Ser a igreja, tão amada! Também não foi nada fácil me desligar da instituição religiosa a qual fazia parte há 11 anos. E apesar de ter convicção de estar fazendo a coisa certa, foi um processo bastante traumático. Sobretudo por amor às pessoas. Muitos relacionamentos foram perdidos, outros estão em stand by. E eu chorei, chorei muito.
E se for pra falar de lágrimas, também chorei de solidão, também chorei de raiva, também chorei de amor... Meu coração, insensato, fugiu de mim e foi passear em terreno perigoso, no campo da paixão. Eu disse para ele não ir, mas teimoso que é não quis ouvir o conselho da razão. E, como já era de se esperar, voltou miúdo, diluído em mil pedaços. Solitário, ferido e sem esperanças...
Se pudesse dividir minha vida em quatro estações, talvez essa experiência seria o “meu outono”. Amor não correspondido consegue deixar o clima cinza, o vento frio, as folhas mortas ao chão... É triste e ruim, mas foi só o início do inverno que ainda haveria de vir.
E no “meu inverno” eu briguei com Deus. Fiquei dias sem falar com meu melhor amigo... Fiz pirraça, bati o pé, fiz biquinho e me escondi (é possível?). Queria respostas, explicações, satisfações... Tudo que eu não tenho direito, mas que meu orgulho exigia. E por não compreender, fiquei magoada e me afastei.
Estava em crise. Uma tempestade de neve se formou dentro de mim. A liberdade que tenho hoje não é só boa. Ela traz na mala também responsabilidades. E administrar tamanha luz às vezes se torna complicado. Minha mente sabe o que é certo, mas meu coração é teimoso. Como vencer essa enorme distância de 30 cm entre minha mente e meu coração?
Mas, em meio a um tenebroso inverno, embarquei na aventura de conhecer e experimentar profundamente o amor de Deus. Sem religião, apenas o amor de Deus. Comecei com medo, mas acreditando no amor que lança fora todo o medo. Tenho encontrado a porção exata capaz de preencher o vazio, curar a ferida e perpetuar o meu sorriso. Tem sido uma jornada interessante, de descobertas e de esperança, mas que está apenas começando... São apenas os primeiros raios de Sol da primavera.
Não posso negar que 2011 também me trouxe muitas alegrias. Conheci pessoas fantásticas, pude aprofundar amizades antes superficiais, compartilhar de momentos incríveis... Matei a saudade de amigos longínquos, me regozijei em colocar minhas habilidades, dons e talentos em prol de nobres projetos, tomei sorvete, fui ao cinema, brinquei com crianças, eu sorri. E por muitas vezes não segurei o sorriso de menina na vida de mulher madura que ainda estou a me acostumar.
Não tenho muitos planos para 2012 a não ser que seja verdadeiramente um Ano Novo, NOVO! Não quero insistir em andar em caminhos que não merecem ser percorridos. Também espero ter aprendido com os erros deste ano. Quero falhar menos. Mas se ainda assim eu errar, vou me perdoar. Prometo! Quero ter uma alegria plena e uma vida de significado, seja qual for a estação.
Se estou preparada para 2012? Não sei. Estou de tênis: pronta para caminhar. Também estou leve: larguei a bagagem pesada que 2011 me trouxe. Estou disposta: não vou parar. Estou viva: então, por maiores que sejam os desafios que 2012 me propõem, ainda há esperança. E sempre haverá... =)
E que essa esperança nos acompanhe durante todo ano. Amém!
sábado, 31 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Lia, Jacó e Raquel. O amor do ponto de vista da preterida
Por diversas vezes já ouvi e li sobre a história de amor de Jacó. E sempre a ênfase era na paciência de Jacó, em como ele suportou esperar e trabalhar pela mulher que amava, a Raquel. Mas ao contrário do que normalmente ouvimos, essa não é somente a história de amor de um casal. Há uma terceira pessoa, que sempre é esquecida nessa história. E é Lia que hoje me chama a atenção.
Lia e Raquel eram irmãs. Lia era a mais velha. É descrita como uma pessoa meiga, mas de olhos sem brilho. Não sei porque a descrevem assim. Talvez seus olhos não tinham mais o vigor da juventude ou a esperança de outrora. Raquel, a mais nova, era bonita. Bonita e atraente. Por ela Jacó se apaixonou e por ela prometeu trabalhar de graça para o sogro por sete anos.
Jacó era esforçado, trabalhador... E não demorou muito para dar muitas riquezas ao esperto e astuto sogro Labão. O rebanho dobrou, a fazenda produzia mais... Aos olhos de Labão tudo havia prosperado depois da chegada de Jacó. E seria bom se continuasse assim, afinal, ele estava enriquecendo.
Mas o prazo de sete anos estava terminando. Ele teria que entregar a sua filha como pagamento e Jacó iria embora cuidar da sua vida. Então, numa jogada estratégica, na noite do casamento, sem que Jacó percebesse, Labão entregou para Jacó sua outra filha, a mais velha, Lia.
Não sei se Jacó estava bêbado quando se deitou naquela noite. Mas fato é que ele só foi perceber a troca no outro dia. O casamento já tinha sido consumado, não havia como devolver Lia e pegar Raquel. Então, por mais sete anos, prometeu Jacó trabalhar em troca de Raquel. Ele ficaria com as duas irmãs.
Uma semana foi o tempo que separou o primeiro do segundo casamento. Era, para Lia, só o início de um pesadelo. Ninguém poderia imaginar que a atitude egoísta de um homem ambicioso como Labão provocaria tanto sofrimento, competição e humilhação para toda uma família. Todos sofreram, mas talvez quem mais tenha padecido foi Lia.
Ela era rejeitada. Não tinha o amor do homem a quem amava. Quando Deus viu que ela era desprezada, concedeu-lhes filhos. Então, ela começou a engravidar, numa tentativa desesperada de chamar a atenção do seu marido para si. “O Senhor viu a minha infelicidade. Agora, certamente o meu marido me amará”, disse ela ao ter nos braços o primeiro bebê. “Porque o Senhor ouviu que sou desprezada, deu-me também este”, era o segundo. “Agora, finalmente, meu marido se apegará a mim, porque já lhe dei três filhos”, encheu-se de esperança, Lia, ao dar a luz ao terceiro.
Na cultura judaica, uma mulher é considerada abençoada quando consegue encher a casa de filhos. É como se fosse a prova da felicidade. Porém, nem todos os filhos que Lia deu a Jacó fizeram com que ele a notasse. E olha que foram seis, fora outros dois de sua serva. Mas ainda no sexto ela deixava claro que a atitude de Jacó não mudara para com ela: “Deus presenteou-me com uma dádiva preciosa. Agora meu marido me tratará melhor”.
O apelo do coração desta mulher era para receber amor, ainda que fossem migalhas... Ela ansiava receber atenção, carinho, afeto, cuidado... Amor!
Penso em Lia e vejo como há tantos exemplos dela nos dias de hoje.
Quantas meninas não engravidam de propósito alimentando a ilusão de que serão mais amadas e respeitadas por seus companheiros depois do nascimento dos filhos? Quantas não acreditam que salvarão o casamento dessa forma? Quantas outras não estão neste momento se preparando para vender o corpo por alguns trocados por achar que é a única forma de ser amada por um homem? Quantas não estão tramando o mal na tentativa de receber atenção, de ser notada, de ser amada? Quantas vivem a suspirar pela chegada de um príncipe encantado? Quantas não se matam ou não se jogam num leito de depressão após uma decepção amorosa? Quantas estão anorexas na ilusão de um corpo perfeito? E quantas outras endividadas até o pescoço por pagar muito caro pelos atrativos da beleza?
Tudo gira em torno do amor. Ou melhor, da falta dele. Há tantas Lias ao nosso redor...
A mulher tem necessidade não só de amor, mas também de se sentir amada, querida, aceita, aprovada. Não foi à toa que Deus deixou, para o homem, o dever de amar sua esposa. AMAR!
Por um momento, que é só meu, consigo sentir a dor de Lia.
Quem não consegue? Quem nunca enfrentou a dureza de uma rejeição ou a frieza de um desprezo? Quem nunca passou por isso de ver o “lugar”, que antes era só seu, sendo ocupado por outra mais bonita, mais jovem, mais atraente, mais amada? E por mais que faça, por mais que se esforce, nada muda! Não há dor maior. Para uma mulher, não há.
Não sei o que aconteceu com Lia. Não sei qual foi o desfecho de sua vida de amargura. Não sei quanto tempo ela ainda suportou. Só sei que não consigo enxergar essa história da mesma forma que enxergava antes, cheia de brilho e sonho, num utópico amor perfeito de Jacó e Raquel, o Romeu e Julieta da Bíblia. Não, existe uma Lia também!
Pensar em Lia me fez olhar para a realidade de que vivemos num mundo onde as histórias não têm nada de conto de fada, onde faltam príncipes encantados montados em cavalos brancos e onde o desfecho está bem longe de ser o “felizes para sempre”. Pensar em Lia me deu respostas para muitas coisas que eu vejo acontecer ao meu redor e dentro de mim. Pensar em Lia me fez questionar atitudes, motivações e até o próprio AMOR. E que bom que gerou isso em mim. Tenho muitas perguntas ainda sem respostas, mas pensar nisso me fez sair do ponto em que eu estava para uma jornada ainda desconhecida mas que promete muitas descobertas...
Lia e Raquel eram irmãs. Lia era a mais velha. É descrita como uma pessoa meiga, mas de olhos sem brilho. Não sei porque a descrevem assim. Talvez seus olhos não tinham mais o vigor da juventude ou a esperança de outrora. Raquel, a mais nova, era bonita. Bonita e atraente. Por ela Jacó se apaixonou e por ela prometeu trabalhar de graça para o sogro por sete anos.
Jacó era esforçado, trabalhador... E não demorou muito para dar muitas riquezas ao esperto e astuto sogro Labão. O rebanho dobrou, a fazenda produzia mais... Aos olhos de Labão tudo havia prosperado depois da chegada de Jacó. E seria bom se continuasse assim, afinal, ele estava enriquecendo.
Mas o prazo de sete anos estava terminando. Ele teria que entregar a sua filha como pagamento e Jacó iria embora cuidar da sua vida. Então, numa jogada estratégica, na noite do casamento, sem que Jacó percebesse, Labão entregou para Jacó sua outra filha, a mais velha, Lia.
Não sei se Jacó estava bêbado quando se deitou naquela noite. Mas fato é que ele só foi perceber a troca no outro dia. O casamento já tinha sido consumado, não havia como devolver Lia e pegar Raquel. Então, por mais sete anos, prometeu Jacó trabalhar em troca de Raquel. Ele ficaria com as duas irmãs.
Uma semana foi o tempo que separou o primeiro do segundo casamento. Era, para Lia, só o início de um pesadelo. Ninguém poderia imaginar que a atitude egoísta de um homem ambicioso como Labão provocaria tanto sofrimento, competição e humilhação para toda uma família. Todos sofreram, mas talvez quem mais tenha padecido foi Lia.
Ela era rejeitada. Não tinha o amor do homem a quem amava. Quando Deus viu que ela era desprezada, concedeu-lhes filhos. Então, ela começou a engravidar, numa tentativa desesperada de chamar a atenção do seu marido para si. “O Senhor viu a minha infelicidade. Agora, certamente o meu marido me amará”, disse ela ao ter nos braços o primeiro bebê. “Porque o Senhor ouviu que sou desprezada, deu-me também este”, era o segundo. “Agora, finalmente, meu marido se apegará a mim, porque já lhe dei três filhos”, encheu-se de esperança, Lia, ao dar a luz ao terceiro.
Na cultura judaica, uma mulher é considerada abençoada quando consegue encher a casa de filhos. É como se fosse a prova da felicidade. Porém, nem todos os filhos que Lia deu a Jacó fizeram com que ele a notasse. E olha que foram seis, fora outros dois de sua serva. Mas ainda no sexto ela deixava claro que a atitude de Jacó não mudara para com ela: “Deus presenteou-me com uma dádiva preciosa. Agora meu marido me tratará melhor”.
O apelo do coração desta mulher era para receber amor, ainda que fossem migalhas... Ela ansiava receber atenção, carinho, afeto, cuidado... Amor!
Penso em Lia e vejo como há tantos exemplos dela nos dias de hoje.
Quantas meninas não engravidam de propósito alimentando a ilusão de que serão mais amadas e respeitadas por seus companheiros depois do nascimento dos filhos? Quantas não acreditam que salvarão o casamento dessa forma? Quantas outras não estão neste momento se preparando para vender o corpo por alguns trocados por achar que é a única forma de ser amada por um homem? Quantas não estão tramando o mal na tentativa de receber atenção, de ser notada, de ser amada? Quantas vivem a suspirar pela chegada de um príncipe encantado? Quantas não se matam ou não se jogam num leito de depressão após uma decepção amorosa? Quantas estão anorexas na ilusão de um corpo perfeito? E quantas outras endividadas até o pescoço por pagar muito caro pelos atrativos da beleza?
Tudo gira em torno do amor. Ou melhor, da falta dele. Há tantas Lias ao nosso redor...
A mulher tem necessidade não só de amor, mas também de se sentir amada, querida, aceita, aprovada. Não foi à toa que Deus deixou, para o homem, o dever de amar sua esposa. AMAR!
Por um momento, que é só meu, consigo sentir a dor de Lia.
Quem não consegue? Quem nunca enfrentou a dureza de uma rejeição ou a frieza de um desprezo? Quem nunca passou por isso de ver o “lugar”, que antes era só seu, sendo ocupado por outra mais bonita, mais jovem, mais atraente, mais amada? E por mais que faça, por mais que se esforce, nada muda! Não há dor maior. Para uma mulher, não há.
Não sei o que aconteceu com Lia. Não sei qual foi o desfecho de sua vida de amargura. Não sei quanto tempo ela ainda suportou. Só sei que não consigo enxergar essa história da mesma forma que enxergava antes, cheia de brilho e sonho, num utópico amor perfeito de Jacó e Raquel, o Romeu e Julieta da Bíblia. Não, existe uma Lia também!
Pensar em Lia me fez olhar para a realidade de que vivemos num mundo onde as histórias não têm nada de conto de fada, onde faltam príncipes encantados montados em cavalos brancos e onde o desfecho está bem longe de ser o “felizes para sempre”. Pensar em Lia me deu respostas para muitas coisas que eu vejo acontecer ao meu redor e dentro de mim. Pensar em Lia me fez questionar atitudes, motivações e até o próprio AMOR. E que bom que gerou isso em mim. Tenho muitas perguntas ainda sem respostas, mas pensar nisso me fez sair do ponto em que eu estava para uma jornada ainda desconhecida mas que promete muitas descobertas...
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