Tinha acabado de chegar à casa da minha mãe e a campainha não parava de tocar. Era dezembro de 2007 e eu havia passado o ano todo fora em escolas da Jocum (agência missionária que faço parte). Muitos amigos foram me ver pra me ouvir contar experiências. Havia passado pelo sertão nordestino, maravilhas Deus tinha operado por lá.
Um dos meus amigos, o Marcos, também tinha acabado de chegar. Ele estava trabalhando em Minas e, de férias, resolvera passar alguns dias no Espírito Santo, na casa dos pais. E, saudoso, também fora me ver.
Durante nossa conversa e em meio a tantos testemunhos, Marcos me entregou um envelope. Dentro, havia uma oferta que ele havia separado do seu 13º. para mim. Eram R$ 100,00. Eu agradeci e logo comecei a pensar o que faria com o dinheiro. Planos não faltavam.
Estava com viagem marcada para São Paulo. Minha família iria passar as festas de fim de ano por lá e eu também decidi ir. A forma como eu consegui o dinheiro das passagens daria um novo post! Fiz um ‘brechó’ de roupas que eu não usava mais: terninhos, vestidos... enfim. Consegui o dinheiro das passagens de ida e volta de avião pra Sampa e passaria o reveillon com a família da minha mãe.
Já estava na semana de viajar quando decidi, com a oferta, comprar três dvds. Não eram quaisquer ‘dvds’. Eram dvds com mensagens evangelísticas, mas infantis. Eram para meus três priminhos: Kaio, Pedro e Juliana. Os meninos tinham 3 anos e a Jú, que já tinha enfrentado uma meningite anos anteriores, era mais velha, mas não lembro a idade certa. Essa minha priminha guerreira também daria um outro post.
Enfim... Cheguei em SP e a primeira coisa que fiz foi distribuir os presentes. Ninguém da família da minha mãe era convertido e dar um dvd de ‘Jesus’ era, para muitos, o mesmo que jogar dinheiro fora. Porque não um brinquedo? Porque não uma roupa? Mas no fundo eu sabia que dava um bom presente.
Fiquei hospedada na casa do Kaio e a primeira vez que eu o vi ele estava diante da TV, assistindo um dvd de pagode e, fazendo do seu caminhão um tambor, ele imitava todos os movimentos de um dos vocalistas. Confesso que vê-lo tão concentrado nas batidas da música me intimidou e por um momento eu pensei em desistir de entregar o presente. Mas dei e ele quis assistir. Uma, duas, três... inúmeras vezes. A cada instante ele pedia pra repetir o dvd de ‘Jesus’. Ele estava fascinado! Seus olhinhos não piscavam e ele cantava, com seu simples vocabulário, todas as musiquinhas do dvd.
Passei pouco mais de uma semana lá, orando para que através daquele dvd algo acontecesse no meio da família. Contar como era a família, também daria um outro post.
O tempo passou e algumas coisas foram acontecendo. A mãe do Kaio começou a frequentar a igreja e a avó dele também. Ele, nem se fala, virou um frequentador assíduo. Com seu pequeno tamanho conseguia levar todos da casa com ele. E era encantador saber notícias de que ele aprendera a cantar louvores, ler a Bíblia e entender a mensagem do Evangelho. Algumas coisas mudaram, milagres aconteceram e no início desse mês recebi a notícia de que as duas se batizaram e estão trilhando um novo caminho. O que era impossível aos olhos humanos, tornou-se real. É nítida a mudança da família e a paz já reina naquele lar.
E saber que um dvd infantil contribuiu em grande parte neste milagre! E saber que o dvd foi dado a uma criança! E saber que o dvd foi comprado a partir de uma oferta missionária!
Se as pessoas soubessem que muitos testemunhos como esse acontecem a partir de uma oferta missionária... E também de quantos outros deixam de acontecer pela falta da mesma! Certa vez aprendi algo que, desde então, carrego comigo. Missões são feitas através dos pés dos que vâo, dos joelhos dos que oram e das mãos dos que abençoam (financiam!!!). Mas, claro, isso já é assunto para um novo post!
terça-feira, 29 de junho de 2010
quarta-feira, 16 de junho de 2010
A sabedoria de Vó Domingas
Sua idade era desconhecida
Mas sua sabedoria era vista
Nas histórias que contava
Nas coisas que dizia.
Ela não era doutora
E falar bem também não sabia.
Mas a todos que se aproximavam
Vó Domingas lhes dizia:
“Deus que te abençoa, guri.
Deus é quem te guia”.
Seus braços eram franzinos
Mas não a impediam de trabalhar.
De dia pilava o arroz todinho
À noite, a mandioca pra ‘cascar’.
A lepra atacou seus pés
Mas ela não deixou de caminhar.
Por Retiro São Bento e por outros cantos
Que sua vontade a fazia buscar.
E onde chegava dizia:
“Vim aqui mas vô vortá pro meu lugá!”
Criou mais de 20 filhos
Uns do ventre e outros do coração.
A matriarca da família
Também juntava os netos na adoção.
Todos vinham até ela
E se juntavam ao redor do fogo a lenha.
Pra ouvir as suas histórias
E compartilhar de suas lendas.
E se alguém ficava doente:
“Vem guri, tomá banho de laranjeira!”
Ler ela não sabia
E em escola nunca entrou.
Mas o tempo lhe deu diploma
E a vida foi quem carimbou.
Conhecê-la foi um presente
E eu agora vou falar:
“Vó Domingas me ensine
O que os livros não me puderam dar.
Deixe-me aprender contigo
O que eu vim pra ministrar.
Diante de ti sou só uma menina
Crua e inexperiente
Dá-me um pouco de sua sabedoria
Para que eu possa seguir em frente.
E com minhas letras e poema
Te farei conhecida...
Pelo mundo e para sempre!”
Mas sua sabedoria era vista
Nas histórias que contava
Nas coisas que dizia.
Ela não era doutora
E falar bem também não sabia.
Mas a todos que se aproximavam
Vó Domingas lhes dizia:
“Deus que te abençoa, guri.
Deus é quem te guia”.
Seus braços eram franzinos
Mas não a impediam de trabalhar.
De dia pilava o arroz todinho
À noite, a mandioca pra ‘cascar’.
A lepra atacou seus pés
Mas ela não deixou de caminhar.
Por Retiro São Bento e por outros cantos
Que sua vontade a fazia buscar.
E onde chegava dizia:
“Vim aqui mas vô vortá pro meu lugá!”
Criou mais de 20 filhos
Uns do ventre e outros do coração.
A matriarca da família
Também juntava os netos na adoção.
Todos vinham até ela
E se juntavam ao redor do fogo a lenha.
Pra ouvir as suas histórias
E compartilhar de suas lendas.
E se alguém ficava doente:
“Vem guri, tomá banho de laranjeira!”
Ler ela não sabia
E em escola nunca entrou.
Mas o tempo lhe deu diploma
E a vida foi quem carimbou.
Conhecê-la foi um presente
E eu agora vou falar:
“Vó Domingas me ensine
O que os livros não me puderam dar.
Deixe-me aprender contigo
O que eu vim pra ministrar.
Diante de ti sou só uma menina
Crua e inexperiente
Dá-me um pouco de sua sabedoria
Para que eu possa seguir em frente.
E com minhas letras e poema
Te farei conhecida...
Pelo mundo e para sempre!”
quinta-feira, 3 de junho de 2010
A Escola
Passava da hora do almoço quando chegamos em Retiro São Bento. A viagem que nos levou até lá fora bem emocionante e o percurso de 186 km (Do centro de Barão de Melgaço até o Retiro) nos revelou o cenário exuberante do coração do Pantanal. Eram 5hs quando nossa equipe entrou no carro de funerária (O carro fretado que nos levaria em parte da viagem) para enfrentar a viagem que prometia ser bem dificil, devido às condições da estrada. Nessa época do ano nem carro e nem barco passam por lá, só mesmo de trator, com uma charrete acoplada na traseira, é que as pessoas conseguem chegar em São Bento. No trator, quase atolamos, quase caímos, quase viramos comida de jacaré, mas enfim, chegamos!
Retiro São Bento é uma vila, formada por aproximadamente 25 famílias, a maioria descendente de duas famílias: a do seu Neco (cujo pai foi o fundador do vilarejo) e da índia Domingas. Todos moram bem perto, talvez prá compensar a 'lonjura' que é chegar nesse lugar, isolado de tudo, no coração do Pantanal. Suas casas são de pau a pique, cobertas por palha e com pouca ou nenhuma mobília. Uma cisterna abastecia de água toda a comunidade e uma escola, bem no meio do Vilarejo, era a responsável pela Educação das crianças da comunidade.
Em apenas uma sala de aula, 16 crianças das mais variadas idades e niveis de conhecimento tentavam aprender noções básicas de Português e Matemática sob o esforço sobre humano do professor Zezinho. A escola estava bem danificada. Suas paredes estavam sujas e descascadas, as portas não tinham fechadura, alguns vidros das janelas estavam quebrados, assim como algumas telhas também. A estrutura não era nada animadora, principalmente para um ambiente escolar.
A escola também era a única estrutura usada pela comunidade para celebrar cultos, festas e reuniões. Era o centro de todos os eventos e datas importantes. Era o 'point' e a referência para tudo e para todos. E lá estava a escola, caindo aos pedaços... E lá estávamos nós, com a missão de levar o Reino de Deus para Retiro São Bento...
Desde que foi fundada, em 1995, a escola nunca fora reformada. Fazer isso em apenas uma semana nos parecia dificil demais, mas não impossível. Era manhã de terça-feira quando, juntamente com o professor, fomos de casa em casa e para todas as famílias compartilhamos sobre a necessidade de reforma da escola e da importância de toda a comunidade ajudar. Passamos toda a manhã e parte da tarde, mas arrecadamos dinheiro suficiente para a compra de tintas e de outros materiais que ainda viriam de Cuiabá e de Barão.
O mutirão foi marcado para o final de semana e no final de semana lá estavam, todos os homens da comunidade. Muitos abriram mão do trabalho e de outros compromissos para estar lá, contribuindo com o que sabiam, dando o que tinham. De toda a comunidade ouvimos os comentários surpresos de pessoas que nunca tinham visto a comunidade unida em prol de um bem comum. As diferenças foram deixadas de lado e lá estava o povo, com a mão na massa, mais precisamente na massa corrida, transformando a escola.
Uma semana depois, exatamente na terça-feira, a escola ficou pronta. Mais uma vez a comunidade se uniu e preparou um bolo enorme para a inauguração. "A escola ficou linda, nem quando foi fundada ela ficou tão linda assim" era o que todos diziam. Mas lindo mesmo foi ver a comunidade unida no trabalho e orgulhosa pelo resultado, pelo fruto de suas próprias mãos.
Sabe, isso é Reino de Deus. Deus não se preocupa apenas com a salvação da alma. Ele também se preocupa com o desenvolvimento de uma comunidade, com a reforma de sua única escola. Pois é Ele o maior 'Reformador'. Ele é especialista em transformar coisas velhas, feias e sem graça em 'lindas escolas'. É isso o que Ele sempre fez. É isso o que Ele sempre faz. Foi isso que Ele fez em minha vida e é isso o que Ele deseja fazer com o mundo todo.
Passamos duas semanas em Retiro e com certeza, a reforma da escola foi o marco de muitas coisas que ainda acontecerão nesta comunidade. Em mim ficou marcado e como uma boa saudosista, ficaram também as doces lembranças de um povo guerreiro que unido pode muito, muito mais. Hoje estou em Barão, ainda com forças para mais duas semanas de missões nas terras pantaneiras. A saudade tem apertado bastante, mas ontem, o abraço do menino Inácio de boas-vindas me fez sentir que há muito ainda que fazer por aqui.
Até a próxima amigos...
Retiro São Bento é uma vila, formada por aproximadamente 25 famílias, a maioria descendente de duas famílias: a do seu Neco (cujo pai foi o fundador do vilarejo) e da índia Domingas. Todos moram bem perto, talvez prá compensar a 'lonjura' que é chegar nesse lugar, isolado de tudo, no coração do Pantanal. Suas casas são de pau a pique, cobertas por palha e com pouca ou nenhuma mobília. Uma cisterna abastecia de água toda a comunidade e uma escola, bem no meio do Vilarejo, era a responsável pela Educação das crianças da comunidade.
Em apenas uma sala de aula, 16 crianças das mais variadas idades e niveis de conhecimento tentavam aprender noções básicas de Português e Matemática sob o esforço sobre humano do professor Zezinho. A escola estava bem danificada. Suas paredes estavam sujas e descascadas, as portas não tinham fechadura, alguns vidros das janelas estavam quebrados, assim como algumas telhas também. A estrutura não era nada animadora, principalmente para um ambiente escolar.
A escola também era a única estrutura usada pela comunidade para celebrar cultos, festas e reuniões. Era o centro de todos os eventos e datas importantes. Era o 'point' e a referência para tudo e para todos. E lá estava a escola, caindo aos pedaços... E lá estávamos nós, com a missão de levar o Reino de Deus para Retiro São Bento...
Desde que foi fundada, em 1995, a escola nunca fora reformada. Fazer isso em apenas uma semana nos parecia dificil demais, mas não impossível. Era manhã de terça-feira quando, juntamente com o professor, fomos de casa em casa e para todas as famílias compartilhamos sobre a necessidade de reforma da escola e da importância de toda a comunidade ajudar. Passamos toda a manhã e parte da tarde, mas arrecadamos dinheiro suficiente para a compra de tintas e de outros materiais que ainda viriam de Cuiabá e de Barão.
O mutirão foi marcado para o final de semana e no final de semana lá estavam, todos os homens da comunidade. Muitos abriram mão do trabalho e de outros compromissos para estar lá, contribuindo com o que sabiam, dando o que tinham. De toda a comunidade ouvimos os comentários surpresos de pessoas que nunca tinham visto a comunidade unida em prol de um bem comum. As diferenças foram deixadas de lado e lá estava o povo, com a mão na massa, mais precisamente na massa corrida, transformando a escola.
Uma semana depois, exatamente na terça-feira, a escola ficou pronta. Mais uma vez a comunidade se uniu e preparou um bolo enorme para a inauguração. "A escola ficou linda, nem quando foi fundada ela ficou tão linda assim" era o que todos diziam. Mas lindo mesmo foi ver a comunidade unida no trabalho e orgulhosa pelo resultado, pelo fruto de suas próprias mãos.
Sabe, isso é Reino de Deus. Deus não se preocupa apenas com a salvação da alma. Ele também se preocupa com o desenvolvimento de uma comunidade, com a reforma de sua única escola. Pois é Ele o maior 'Reformador'. Ele é especialista em transformar coisas velhas, feias e sem graça em 'lindas escolas'. É isso o que Ele sempre fez. É isso o que Ele sempre faz. Foi isso que Ele fez em minha vida e é isso o que Ele deseja fazer com o mundo todo.
Passamos duas semanas em Retiro e com certeza, a reforma da escola foi o marco de muitas coisas que ainda acontecerão nesta comunidade. Em mim ficou marcado e como uma boa saudosista, ficaram também as doces lembranças de um povo guerreiro que unido pode muito, muito mais. Hoje estou em Barão, ainda com forças para mais duas semanas de missões nas terras pantaneiras. A saudade tem apertado bastante, mas ontem, o abraço do menino Inácio de boas-vindas me fez sentir que há muito ainda que fazer por aqui.
Até a próxima amigos...
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