Essa semana, em meu estudo devocional, li alguns escritos de Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) e me chamou bastante atenção o que ele escreve sobre uma passagem bem conhecida da Bíblia a respeito do jejum: “Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto...” (Mt 6:16-18a).
Ele discorre sobre o significado de arrumar o cabelo, ou ungir a cabeça, e de lavar o rosto. Ensina que durante o jejum, a pessoa deve se encher de alegria (ungir a cabeça) e guardar o coração de toda e qualquer impureza (lavar o rosto), além, é claro, do significado óbvio que é o de não ostentar, ou não se ensoberbecer, no pano de saco.
Fiquei refletindo sobre isso e se essa instrução também não se aplica quando algo “ruim” nos acontece, quando somos frustrados em nossos planos ou quando simplesmente ouvimos ‘NÃO’ de Deus. É comum, ao sermos desapontados, mostrarmos a nossa ‘cara emburrada’ ao mundo. Nós nos sentimos no direito de mostrar que estamos tristes, emburrados, chateados, desapontados... Esperamos que alguém note e venha nos perguntar o motivo do nosso ‘cabelo desarrumado’ e de nosso ‘rosto feio’. E se isso acontece está aí a oportunidade de despejar toda nossa amargura, insatisfação, revolta e raiva. Mas, ainda que seja tão comum isso acontecer, não é isso que Deus nos ensina.
Quando os filhos do sacerdote Arão foram mortos por oferecerem sacrifício profano a Deus, Moisés foi incisivo com Arão e seus outros filhos: “Não andem descabelados, nem rasguem as roupas em sinal de luto, senão vocês morrerão e a ira do Senhor cairá sobre toda a comunidade. Mas os seus parentes, e toda a nação de Israel, poderão chorar por aqueles que o Senhor destruiu pelo fogo” (Lv 10:6).
Deus não nos impede de chorar por nossos lutos, nem de lamentar o que foi perdido ou não deu certo, mas ele nos adverte sobre o que nosso comportamento público pode gerar nas outras pessoas. E Arão tanto entendia isso, que ficou em silêncio, mesmo em face da morte dos dois filhos (Lv 10: 3). Ele sabia que qualquer manifestação da sua parte poderia gerar algo ruim entre o povo. Ora, ele era o sacerdote e seus filhos foram mortos. Toda a nação o respeitava, o amava e sentia a sua dor. Qualquer manifestação de revolta de sua parte poderia gerar, por consequência e em dimensões muito maiores, uma revolta em massa contra Deus.
Ele sabia do erro de seus filhos e que o Senhor os havia punido com justiça. Mas a comunidade entenderia dessa forma se ele se descabelasse e rasgasse suas vestes? Se ele tivesse feito isso, que tipo de sentimento e de atitude ele geraria entre o povo? Talvez raiva do Senhor? Talvez divisão entre o povo de Deus? Talvez uma apostasia da fé?
O que muitas vezes não percebemos é que ignoramos essa advertência e, inconscientemente ou não, manipulamos as pessoas a terem uma visão equivocada sobre o caráter de Deus. E o caráter de Deus é esse: Ele é amor. Sua vontade é boa, perfeita e agradável, seus planos são de paz e TODAS as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Arrumemos os nossos cabelos e lavemos os nossos rostos, pois, sendo da forma que esperamos ou não, Deus sempre tem o melhor para nós!
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