Pelo quinto ano consecutivo, estávamos nós, a caminho de Guriri, para mais um impacto evangelístico de carnaval. A previsão era de chuva para todo o feriado, mas os planos dos foliões de passar esses dias no balneário mais badalado do Estado continuavam de pé, e os nossos, de ir para lá, também.
Chegamos de madrugada, talvez às 4 horas, não lembro... Para quem acordoumuito cedo, precisar algum horário depois da meia-noite é um pouco complicado. Nossa casa, nosso quartel general, nossa igreja e nosso refúgio nesses dias era um colégio. Em poucos minutos as salas foram ocupadas e tivemos algumas horas de descanso.
O sábado de carnaval amanheceu nublado, como amanheceria todos os dias seguintes. A metereologia estava certa e a chuva não daria trégua! Quando chegou a noite e com ela a minha responsabilidade de levar uma reflexão à equipe, pudemos compartilhar um pouco do sentimento de Cristo com relação às multidões. “Quando Jesus saiu do barco e viu uma grande multidão (EM GURIRI), teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar-lhes muitas coisas...”(Mc 6: 34).Meditamos sobre compaixão e sobre duas palavras que nunca andam juntas: CRISTIANISMO e CONFORTO. O que Jesus faria se pudesse caminhar pelas ruas de Guriri em pleno carnaval de 2011?
Mesmo debaixo de chuva, fomos para a avenida. Nosso ‘abadá’ verde nos uniformizava e chamava a atenção das pessoas. Não foi difícil notar os olhares curiosos, alguns maldosos e outros bastante maliciosos sobre nós. Mas saímos do colégio com a proposta de termos sobre aquela multidão o mesmo olhar compassivo de Jesus.Percebemos, então, a grande presença de crianças nas ruas.
A chuva acelerou a nossa volta, mas não aquietou nossos pensamentos que ficaram lá, naquela grande multidão de crianças nas ruas do carnaval, expostas a todo tipo de violência, abuso e exploração. O dia seguinte seria longo e ainda na caminhada de volta ao colégio começamos a planejar o que faríamos para alcançar nossos pequenos foliões. É claro que Deus já havia compartilhado algumas ideias principalmente com quem já estava acostumado a trabalhar com as crianças. E, uma das estratégias, era a fabricação de cataventos.
Nunca fiz um catavento. Na verdade, até o carnaval nem sabia qual a utilidade de um,principalmente qual seria o propósito de um desses em Guriri. Mas, saímos na tarde de domingo soprando bolinhas de sabão, fazendo peças teatrais infantis e com os cataventos na mão. Arranjamos um lugar coberto – que seria o nosso point nos outros dias – instalamos nossos equipamentos e chamamos as crianças.
Eu encontrei o André. Um menino de 5 ou 6 anos que estava com sua irmã em Guriri. Ele veio assistir as peças e, com olhar atento, não perdia nada do que acontecia. Ele sentou-se bem ao meu lado e eu, ao lado dele, estava com um catavento na mão.
“- André, você sabe como o catavento se move?”, perguntei.
“-Não!”, ele respondeu rapidamente. Eu, então, fiz como o tio Roland havia me ensinado. Empurrei o catavento pra frente e pra trás e soprei, fazendo vento e fazendo o catavento girar.
“- É o vento que faz ele girar!”, deu um grito, como quem faz uma grande descoberta.
“-Sim, é o vento. Você acertou. Mas, e se esse catavento fosse você? Quem seria o vento que te moveria, André?”, perguntei. Não esperava que ele fosse me dar uma resposta, na verdade, já me preparava pra reparar minha pergunta, trocar por uma outra “mais fácil”. Mas, antes mesmo que eu formulasse algo, André me surpreendeu.
“-É Deus, tia. Ele é o vento do catavento!”.
Não, não fiquei boquiaberta e nem espantada. Fiquei fascinada pela forma como Deus se revela. Ele é simples e se mostra de forma simples aos simples! Não falei mais nada para o André, apenas sorri para ele, mostrando toda minha aprovação e felicidade por sua resposta. Outras crianças chegaram, a programação continuou, muitas outras coisas aconteceram à noite e nos demais dias. Pessoas foram impactadas, quebrantadas, reconciliadas com Cristo. O VENTO DO CATAVENTO não somente marcou a minha tarde de domingo, como moveu o coração de muitas pessoas naquela multidão. Moveu o meu, moveu o de André, moveu o da multidão e continuará movendo com seu sopro de vida, com seu olhar de compaixão...
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