Ahh, quem me dera ter nascido uma poesia...
E ter os meus anos transformados em rimas,
Minhas vivências em versos singelos para combinar!
Quem me dera se meus passos fossem sílabas contadas,
Com linhas descritas e ordenadas
Perfeitas, sem nenhuma chance de errar!
Quem me dera se tivesse vírgulas para separar meus pensamentos
E palavras tão leves como o vento
Que um ponto final não as impedisse de voar!
Quem me dera se a vida não terminasse com a morte
Como a poesia não termina com a estrofe
E deixa livre aquela que vive a sonhar!
(Fabiana Tostes)
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Alcides e o Mundo
Eram 22 hs de domingo e eu acabava de colocar meu prato de janta no microondas quando uma notícia no Fantástico chamou minha atenção. Tinha acabado de chegar de uma igreja longe e o que eu menos queria fazer era parar em frente à TV, havia decidido jantar e ir dormir. Mas, os apresentadores começaram a falar de uma série que eles tinham produzido em 2007 chamada ‘Felicidade’ e de uma mulher, uma catadora de papelão, que havia traduzido muito bem o que era isso.
Não me lembro o nome da catadora, mas lembro do filho dela: Alcides. E a razão de sua felicidade era devido ao seu filho ter passado no vestibular para Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela pulava de alegria diante das câmeras e do resultado do vestibular, fixado no muro da faculdade.
Ela tinha razão de estar feliz! No nosso país, onde boa educação é para poucos e educação superior para pouco menos ainda, colocar um filho dentro de uma faculdade federal é um privilégio e tanto. Ainda mais ela, moradora do subúrbio, negra, catadora de papel, sem marido, que nunca teve condições de pagar uma escola particular... É, ela tinha razão de estar feliz.
Na época, tanto ela como o filho foram entrevistados e Alcides se tornou um ícone em todo país da inclusão social. Ele estava realizando seu grande sonho de ser, um dia, médico. Uma inspiração para outros na sua idade e até mesmo para seus outros irmãos, que passaram a estudar com diligência para também conseguir chegar lá.
Mas a reportagem não terminaria aí... A cena daquela mulher, que outrora pulava de alegria, era agora de tristeza. Na última sexta-feira, Alcides voltava da faculdade e já entrava em sua casa quando foi baleado com dois tiros na cabeça. Os assassinos, dois jovens rapazes, o confundiram com outra pessoa, atiraram e fugiram. Alcides chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu... Ali acabava o sonho de Alcides. Ali acabava a alegria de uma mãe.
A catadora mal podia ficar em pé diante do caixão do filho, morto. O reitor, os colegas de faculdade, a comunidade onde morava, todos tentaram ampará-la. Mas que humano pode consolar uma mãe que perde o filho, seu orgulho, seu tesouro? A reportagem terminou com a cena da terra sendo jogada em cima do caixão.
A notícia não durou mais de três minutos, mas foi suficiente para inundar de lágrimas meu prato de arroz, feijão e frango frito, que virou ensopado. Fui comer na cozinha para que meus pais não me vissem chorando e de lá sussurrei sozinha: ‘Por que?!’
Que mundo é esse tão mau que nós vivemos? Que mundo é esse que assassina cruelmente seus jovens mais promissores? Que mundo é esse que faz com que mães tão franzinas e tão batalhadoras sofram tanto? Que mundo é esse que deixa impune quem pratica tamanha maldade? Que mundo é esse cheio de tristeza, amargura e dor?
Em meio ao meu choro solitário e solidário olhei pros céus, que aqui foram representados pelo teto gorduroso da minha cozinha, e desejei mesmo ir embora desse mundo. “Não tem mais jeito! Não adianta, quanta injustiça!” foi o que me veio ao coração. Mas tão rápido quanto este pensamento foi o seguinte, que me surpreendeu: “Porque Deus amou o mundo (sim, esse mesmo mundo) de tal maneira...”.
Está vendo este mundo podre, cheio de mazelas, dor, injustiça e crueldade em que vivemos? Ele mesmo é alvo do amor de Deus. Deus o amou e deu o seu único Filho para salvá-lo. Não sei para você, mas é difícil para mim compreender tamanho amor. Eu, no lugar daquela catadora, não conseguiria sequer olhar para os assassinos que roubaram a vida do Alcides. Já Deus entregou seu filho à morte para que eu, a catadora, o Alcides, os dois assassinos e o mundo inteiro tivéssemos vida para sempre.
É preciso não sair daqui. É preciso ficar nesse mundo e lutar. Lutar por mudanças, lutar por justiça, lutar por amor. É preciso chorar, sentir a dor, deixar o nosso coração queimar para nos motivar a viver com um propósito, por um ideal e, se preciso for, dar a vida por isso. Sei que a comoção que sinto agora amanhã estará bem menor, mas é preciso não esquecer. Não colocar a cabeça no travesseiro e dormir como se a história do Alcides fosse só mais uma entre tantas... Na verdade, ela é mais uma, mas que hoje para nós ela seja suficiente para nos transformar e nos fazer transformar o mundo ao nosso redor.
Não me lembro o nome da catadora, mas lembro do filho dela: Alcides. E a razão de sua felicidade era devido ao seu filho ter passado no vestibular para Biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela pulava de alegria diante das câmeras e do resultado do vestibular, fixado no muro da faculdade.
Ela tinha razão de estar feliz! No nosso país, onde boa educação é para poucos e educação superior para pouco menos ainda, colocar um filho dentro de uma faculdade federal é um privilégio e tanto. Ainda mais ela, moradora do subúrbio, negra, catadora de papel, sem marido, que nunca teve condições de pagar uma escola particular... É, ela tinha razão de estar feliz.
Na época, tanto ela como o filho foram entrevistados e Alcides se tornou um ícone em todo país da inclusão social. Ele estava realizando seu grande sonho de ser, um dia, médico. Uma inspiração para outros na sua idade e até mesmo para seus outros irmãos, que passaram a estudar com diligência para também conseguir chegar lá.
Mas a reportagem não terminaria aí... A cena daquela mulher, que outrora pulava de alegria, era agora de tristeza. Na última sexta-feira, Alcides voltava da faculdade e já entrava em sua casa quando foi baleado com dois tiros na cabeça. Os assassinos, dois jovens rapazes, o confundiram com outra pessoa, atiraram e fugiram. Alcides chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu... Ali acabava o sonho de Alcides. Ali acabava a alegria de uma mãe.
A catadora mal podia ficar em pé diante do caixão do filho, morto. O reitor, os colegas de faculdade, a comunidade onde morava, todos tentaram ampará-la. Mas que humano pode consolar uma mãe que perde o filho, seu orgulho, seu tesouro? A reportagem terminou com a cena da terra sendo jogada em cima do caixão.
A notícia não durou mais de três minutos, mas foi suficiente para inundar de lágrimas meu prato de arroz, feijão e frango frito, que virou ensopado. Fui comer na cozinha para que meus pais não me vissem chorando e de lá sussurrei sozinha: ‘Por que?!’
Que mundo é esse tão mau que nós vivemos? Que mundo é esse que assassina cruelmente seus jovens mais promissores? Que mundo é esse que faz com que mães tão franzinas e tão batalhadoras sofram tanto? Que mundo é esse que deixa impune quem pratica tamanha maldade? Que mundo é esse cheio de tristeza, amargura e dor?
Em meio ao meu choro solitário e solidário olhei pros céus, que aqui foram representados pelo teto gorduroso da minha cozinha, e desejei mesmo ir embora desse mundo. “Não tem mais jeito! Não adianta, quanta injustiça!” foi o que me veio ao coração. Mas tão rápido quanto este pensamento foi o seguinte, que me surpreendeu: “Porque Deus amou o mundo (sim, esse mesmo mundo) de tal maneira...”.
Está vendo este mundo podre, cheio de mazelas, dor, injustiça e crueldade em que vivemos? Ele mesmo é alvo do amor de Deus. Deus o amou e deu o seu único Filho para salvá-lo. Não sei para você, mas é difícil para mim compreender tamanho amor. Eu, no lugar daquela catadora, não conseguiria sequer olhar para os assassinos que roubaram a vida do Alcides. Já Deus entregou seu filho à morte para que eu, a catadora, o Alcides, os dois assassinos e o mundo inteiro tivéssemos vida para sempre.
É preciso não sair daqui. É preciso ficar nesse mundo e lutar. Lutar por mudanças, lutar por justiça, lutar por amor. É preciso chorar, sentir a dor, deixar o nosso coração queimar para nos motivar a viver com um propósito, por um ideal e, se preciso for, dar a vida por isso. Sei que a comoção que sinto agora amanhã estará bem menor, mas é preciso não esquecer. Não colocar a cabeça no travesseiro e dormir como se a história do Alcides fosse só mais uma entre tantas... Na verdade, ela é mais uma, mas que hoje para nós ela seja suficiente para nos transformar e nos fazer transformar o mundo ao nosso redor.
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